13/04/1930 a 27/06/2025
sábado, 28 de junho de 2025
terça-feira, 3 de junho de 2025
quinta-feira, 1 de maio de 2025
Chico da Matilde "Dragao do Mar"
Francisco Nascimento nasceu em Canoa Quebrada, distrito do município de Aracati, em 15 de abril de 1839, de origem pobre e filho do pescador Manoel do Nascimento e da dona Matilde Maria da Conceição. Aos oito anos, com a morte precoce do pai, sua mãe buscou um emprego para ele, quando ainda criança, tornando-o um menino de recados em navios que iam do Maranhão ao Ceará.
Até os 20 anos, Chico da Matilde — conhecido assim por causa do nome da mãe — trabalhou no veleiro do comendador português José Raimundo de Carvalho como embarcadiço e depois como comandante, percorrendo portos do Norte e Nordeste. Além disso, também trabalhou na construção do porto e como chefe dos catraieiros, até ser nomeado prático-mor na Capitania dos Portos do Ceará.Também alugava jangadas para transporte de pessoas e mercadorias.
Tinha uma casa próxima ao Seminário da Prainha, em Fortaleza e casou-se primeiramente com Joaquina Francisca — que também se envolveu na causa abolicionista — e novamente em 1902, quando já viúvo, com Ernesta Brígido, sobrinha de João Brígido. Consta que ele andava sempre bem vestido, com a barba bem feita e tinha noções de inglês e alemão.
O paradeiro do túmulo de Francisco Nascimento — desconhecido há mais de 100 anos — foi descoberto pelo historiador cearense Licínio Nunes de Miranda em julho de 2020, no âmbito de um trabalho de investigação acadêmica sobre a abolição da escravidão no Ceará.
Em 25 de março de 1884, o Ceará tornou-se a primeira província brasileira a abolir a escravidão. O Movimento Abolicionista Cearense, surgido em 1879, contribuiu — embora não decisivamente — para essa abolição pioneira.
As ações repercutiram no país e os abolicionistas cearenses, gente de elite econômica e intelectual, foram congratulados pela imprensa abolicionista nacional. Entre eles havia, porém, uma pessoa humilde, de cor parda, trabalhador do mar, o Chico da Matilde.
Chefe dos jangadeiros, ele e seus colegas se engajaram à luta pela abolição em janeiro de 1881, recusando-se a transportar para os navios negreiros os escravos que seriam vendidos para o Rio de Janeiro, tendo proferido, segundo algumas fontes, a célebre frase "no porto do Ceará não embarcam mais escravos". Posteriormente, em agosto de 1881, houve uma nova tentativa de embarcar escravos que seriam vendidos em São Paulo e no Rio de Janeiro, contudo, novamente os jangadeiros, liderados por Chico da Matilde e pelo escravo liberto José Luis Napoleão, se recusaram a fazer o transporte e o porto do Ceará foi considerado, pelo movimento abolicionista, oficialmente fechado para o tráfico interprovincial.
Segundo a historiadora Ângela Alonso "Os jangadeiros só conseguiram fazer o que fizeram porque tinham parte importante da elite política e das forças policiais ao seu lado". Um exemplo disso foi quando o tenente-coronel Sena Madureira fez elogios ao jangadeiro.
Angelo Agostini registrou e homenageou o fato na capa da Revista Illustrada, com uma litogravura com ilustração alegórica de Francisco Nascimento, com a seguinte legenda: "À testa dos jangadeiros cearenses, Nascimento impede o tráfico dos escravos da província do Ceará vendidos para o sul".
Assim, Chico da Matilde foi levado para corte com sua jangada, desfilou pelas ruas, recebeu homenagens da multidão e ganhou novo nome: Dragão do Mar ou Navegante Negro. De lá, escreveu à mulher: "(...) seu velho está tonto com tanta festa e cumprimentos de tanta gente importante".
Francisco José do Nascimento é um símbolo da resistência popular cearense contra a escravidão, e foi homenageado pelo governo do Ceará, com seu nome dado ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, pelo que ele e seus colegas realizaram em nome da liberdade, em 1881, na Praia de Iracema.
Além do já referido Centro Dragão do Mar, há uma escola pública estadual cujo nome também homenageia o Chico da Matilde, localizada no bairro do Mucuripe, Escola de Ensino Médio Dragão do Mar, que foi fundada em 1955, com o objetivo de alfabetizar os filhos de pescadores que moravam na região àquela época. Um tradicional grupo de estudos liberal com sede no Ceará também recebe o título Dragão do Mar em sua homenagem. Em Aracati, é homenageado com o nome da rua que dá acesso a cidade pela BR-304 (sentido Icapuí) e o aeroporto regional. Já em Canoa Quebrada pela praça central da praia.
Em 23 de agosto de 2013, a Petrobras, por meio de sua subsidiária Transpetro, lançou ao mar um novo navio petroleiro construído em Pernambuco e batizado Dragão do Mar. De fabricação e bandeira brasileira, foi construído em Ipojuca, pelo Estaleiro Atlântico Sul e inaugurado em 14 de abril de 2014 com a presença da presidente Dilma Rousseff. A embarcação integrou uma nova geração de petroleiros construídos no Brasil. Foi o oitavo navio a ser construído depois do lançamento do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro, dos quais outros dois anteriores também receberam nomes de ícones da resistência negra: João Cândido e Zumbi dos Palmares.
Fonte: Wikipédia
sexta-feira, 25 de abril de 2025
Vertentes da Capoeira Carioca da dec de 20 a 40
domingo, 20 de abril de 2025
Esquadrao Zuavos
Os Zuavos da Bahia
Os Zuavos Baianos, oriundo dos Voluntários da Pátria, era unidade composta só de homens negros. Seus vistosos uniformes, segundo Gustavo
Barroso, lembravam os dos zuavos franceses da Argélia. Eles vieram para o teatro-de-guerra em maio de 1865, no navio "São Francisco" (antigo
"Cotopaxi", americano), em número de duas ,companhias. Com eles, o ilustre 1 º Ten de Engenheiros André Pinto Rebouças, da Comissão de Engenheiros do 2º Corpo de Exército ao comando de Osório.
André Rebouças, após sair do Exército depois de um ano na Campanha do Paraguai, aliou-se, em 1880, a Joaquim Nabuco e veio a tornar-se um dos maiores abolicionistas; comparticipação relevante na causa de libertação dos negros no Brasil. O fato de haver seguido para a guerra em companhia de seus irmãos de cor e co-provincianos baianos é muito significativo.
A despedida dos zuavos no Rio de Janeiro contou com o prestígio das presenças de D. Pedro II e do Ministro da Guerra Angelo Ferraz, mais tarde Barão de Uruguaiana.
Eles se encontrariam com o Imperador cerca de 4 meses mais tarde, por ocasião do sítio e rendição dos paraguaios, em Uruguaiana, de cujo dispositivo fizeram parte.
Cândido Lopes, ao focalizar o acampamento de Curuzu, após conquistado pelos paraguaios, focalizou alguns grupos de zuavos da Bahia entre as tropas. Eles tiveram papel destacado na conquista das trincheiras de Curuzu, segundo Arthur Ramos, em "O Negro como Soldado."
O capitão capoeira Marcolino subiu a muralha inimiga por sobre as costas de um de seus soldados, retirou uma bandeira paraguaia, hasteou o pavilhão verde-amarelo no seu lugar e,
segundo Manoel Querino, anunciou: “Está aqui o negro zuavo baiano!” A coragem do Zuavo Marcolino foi louvada em ordens do dia, registrada naimprensa do Rio de Janeiro e de Salvador, e posteriormente lembrada por folcloristas, entre eles Querino
Os zuavos integraram, no início da guerra, cerca dos 57 Batalhões de Voluntários da Pátria, os quais, com· as baixas ocorridas durante a guerra foram se fundindo e se reduziram a 19. Assim, logo após os primeiros embates, a tropa de zuavos foi sendo incorporada às outras, depois de dissolvidas por Osório.
O Conde D'Eu em seu livro
"Viagem Militar do Rio Grande
do Sul" em 1865, escreveu sobre os zuavos da Bahia:
"É a mais linda tropa do Exército Brasileiro. Compõe-se unicamente de negros. Os oficiais também são negros; e nem por isso piores oficiais, pelo contrário. Conversei propositadamente muito tempo com eles. Estavam a par de todos os pormenores do serviço e orgulhosos do seu batalhão."
Pouco depois de as tropas aliadas atravessarem o rio Paraná e invadirem o sul do Paraguai em abril de 1866, Francisco Otaviano de Almeida Rosa escreveu jubiloso, de Buenos Aires, ao ministro da guerra: “Um abraço pelos nossos triunfos. Vivam os brasileiros, sejam brancos, negros, mulatos ou caboclos! Vivam! Que gente brava!”
O entusiasmo do diplomata brasileiro pelos feitos militares dos seus patrícios não brancos coloca a questão do impacto da guerra na política racial brasileira.
Muitos ecoam a declaração de Otaviano e vêem a guerracomo uma experiência racialmente compartilhada que forjou a nacionalidade nos campos de batalha.
A história de Cândido da Fonseca
Galvão, mais conhecido como Dom Obá II (o título iorubá por ele adotado no Rio de Janeiro na década de 1880), que serviu numa das companhias de zuavos criadas na Bahia em 1865-66, revela a complexidade da experiência de guerra para a população negra.
Profundamente monarquista, Dom Obá destacava seu serviço ao imperador como evidência do seu pertencimento à nação brasileira, mas também publicava críticas sofisticadas da discriminação racial que ele e o resto da população negra enfrentavam.
Por que o governo baiano resolveu recrutar companhias de zuavos e couraças em 1865 ainda é um mistério. Recrutar companhias de homens negros negava a bem-estabelecida política militar de não levar em conta acor dos soldados. As últimas unidades segregadas nas forças armadas brasileiras (os batalhões milicianos de homens pardos e pretos) tinham sido extintas em 1831, quando da criação da Guarda Nacional. O último vestígio da preferência racial no recrutamento, isto é, a exclusão de “homens pretos” das fileiras do Exército, foi abolido em 1837, quando o
governo do Regresso sentiu a necessidade de aumentar o seu efetivo.
Desde então, o Exército seria uma instituição formalmente cega à cor da pele, e que levava essa política ao extremo: na fé-de-ofício padrão
não tinha lugar para indicar a cor do soldado e, portanto, o Exército não podia fornecer essa informação básica às autoridades policiais encarregadas da captura de desertores
A proposta para a criação de companhias negras na Bahia veio de fora do Exército, como grande parte da mobilização patriótica de 1865-66.
Quirino Antônio do Espírito Santo se ofereceu, no dia 26 de janeiro de 1865, para organizar um “respeitável corpo de voluntários” de “cidadãos crioulos”, “que pelo seu denodo, coragem e amor àpátria recordariam mais uma vez os valorosos combatentes sob o comando do celebre Henrique Dias”.
Quirino invocou o patriotismo que tinha sentido durante a guerra pela Independência (1822-23) e proclamou que, “impelido por uma força sobrenatural venho oferecer-me ao
governo para ir combater em prol da honra, integridade e soberania do Império, que vis gaúchos pretendem insanamente macular"
A proposta foi logo aprovada e, no dia 1º de fevereiro, Quirino se instalou no Forte do Barbalho e começou a organizar a companhia. Dentro de poucos dias, tomou o nome de “zuavos baianos” e o presidente aprovou uma subscrição para fardar os novos recrutas com o uniforme garboso das tropas coloniais franceses na Argélia. Desconheçoo porquê da decisão de adotar o nome e o uniforme das tropas coloniais francesas. Na década de 1860, a moda zuava de bombachas vermelhas,colete azul bordado e pequeno boné ou fez já havia sido amplamentedivulgada entre diversos exércitos, tais como as forças do Norte e doSul na guerra civil norte-americana e as tropas internacionais do papa.
Onze companhias de zuavos, com um efetivo total de 638 homens, bem como uma companhia de couraças, de 80 homens, embarcaram na Bahia para o Rio de Janeiro e os campos de batalha antes demarço de 1866 (há alguns indícios de uma tentativa de criação de umadécima segunda companhia de zuavos, mas é provável que seus integrantes fossem para o Sul na qualidade de recrutas.
Muitos dos líderes da primeira fase da mobilização baiana haviam lutado na guerra pela Independência. Quando Quirino embarcoucomo tenente comandante da Primeira Companhia de Zuavos, seu comandante era o tenente-coronel José da Rocha Galvão, outro veterano
da Independência.
José Elói Buri, capitão da Companhia de Couraças, também foi veterano das lutas de 1822 e 1823. Os couraças, aliás, lembravam os vaqueiros do sertão, vestidos de couro, que haviam
se juntado aos patriotas que sitiavam os portugueses em Salvador. A essa lista de veteranos da Independência envolvidos na mobilização de 1865, podemos acrescentar o tenente-coronel Domingos Mundim Pestana, comandante do Terceiro Batalhão de Voluntários da Pátria, quehavia assentado praça em 1821, com a idade de 15 anos, bem como ocoronel Joaquim Antônio da Silva Carvalhal, o principal idealizador daSociedade Veteranos da Independência e figura chave na organização das companhias de zuavos
Poucos dos veteranos idosos resistiram aos rigores da campanha. Quirino faleceu em novembro no hospital de Montevidéu, e Pestana, doente e cego, já estava de volta a Salvador em fevereiro de 1866;morreu dois anos mais tarde. Outros resistiram por mais tempo. RochaGalvão foi morto durante a primeira batalha de Tuiuti (24 de maio de1866), e Buri sucumbiu ao cólera três dias antes de sua licença médicater sido anunciada, em fins de 1867. Enquanto podiam servir, todavia,
suas idades lhes garantiram o respeito de seus soldados, a julgar por
uma descrição da Primeira Companhia de Zuavos durante uma curta
escala em Desterro (hoje Florianópolis): Quirino foi descrito como “umvelho preto [que] parece um verdadeiro homem de bem, a quem os seussoldados respeitam-no como a um pai”
Nasua despedida da Segunda Companhia de Zuavos, Carvalhal conclamouos a combater “denodados contra os paraguaios como o intrépido e imortal Henrique Dias combateu outrora os holandeses e na gloriosa épocada Independência o denodado tenente-coronel Manoel Gonçalves [da
Silva], fazendo sobressair o valor e [a] bravura da vossa cor”.
Para oembarque da Primeira Companhia de Zuavos, Francisco Moniz Barreto,então o poeta baiano mais popular (e também um veterano da Independência), escreveu às pressas o “Hino dos zuavos baianos”, cuja primeira estrofe e o estribilho são bem representativos da retórica patriótica
de 1865:
"Sou crioulo: da guerra na crisma
Por zuavo o meu nome troquei
Tenho sede de sangue inimigo
Por bebê-lo o meu sangue darei
D’Henrique Dias
Neto esforçado
Voo ao teu brado
Pátria gentil!
Mais que o da França
Ligeiro e bravo
Seja o zuavo
Cá do Brasil"
Em 1870, três batalhões de Voluntários da Pátria voltaram à Bahia. Foram recebidos com muita festa e logo depois dissolvidos. Muitos solda-
dos deram baixa sem receber os soldos atrasados que o governo ainda lhes devia. Poucos oficiais ou soldados das companhias de zuavos
estavam entre os veteranos que voltaram naquele ano. Carvalhal preparou uma coroa de louros para receber o capitão Barbosa, o único oficialzuavo mencionado pela imprensa baiana na sua cobertura das festas.
Em versos dedicados a Carvalhal, um poeta saudoso lamentou o falecimento dos “nossos velhos amigos”, Rocha Galvão, Buri e Quirino, osveteranos da Independência que haviam servido como exemplo à juventude baiana, e logo passaram a bandeira à nova geração.
A carreira militar dos oficiais zuavos, agora melhor qualificadosde ex-zuavos, pode ser seguida durante o resto da guerra. Muitos ingressaram as longas listas de baixas que se acumulavam nas trincheiras em frente da fortaleza de Humaitá e nos insalubres acampamentos alia-
dos. Além de José Elói Buri, o tenente Manoel Teodoro de Jesus faleceu de cólera. Um “ferimento de estilhaço de bomba” foi a causa da
morte do tenente Augusto Francisco da Silva em março de 1867, e mais dois oficiais dos ex-zuavos morreram de ferimentos ou de doenças.
Outros, como os capitães Marcolino e Maniva, deram baixa por incapacidade física não especificada, entre eles também o alferes Bernardino de Sena Trindade e o tenente Balbino Nunes Pereira. Poucos serviram por toda a guerra. O capitão João Francisco Barbosa de Oliveira, comandante da Terceira Companhia de Zuavos, fez toda a campanha, mas não foi promovido (de fato, nenhum ex-zuavo chegou a major; capitão foi a graduação mais alta alcançada por eles).
Ferido duas vezes, Barbosa nunca pediu licença, como explicou com orgulho num requerimento pós-guerra; ele estava entre as tropas que mataram Francisco Solano López em Aquidabã.
O cadete Constantino Luiz Xavier Bigode foi capturado pelos paraguaios pouco depois da Batalha de Curupaiti e passou mais de dois anos como prisioneiro de guerra, trabalhando na fundição de Ybicuí. Liberado em 1869, ele voltou ao serviço e foi promovido a alferes em março de 1870.
José Soares Cupim Júnior teve menos sorte que Barbosa e Bigode. Um dos primeiros voluntários zuavos (assentou praça na PrimeiraCompanhia no dia 1º de fevereiro de 1865), ele embarcou como sargento, e durante a guerra aos poucos foi promovido até chegar a capitão.Louvado por atos de bravura na Batalha de Curuzu, foi ferido na segunda Batalha de Tuiuti (24 de setembro 1867). Restabeleceu-se e voltouao serviço, mas foi ferido no primeiro dia das lutas em Lomas Valentinas(21 de dezembro de 1868). Não resistiu e faleceu no dia 13 de janeirode 1869, pouco depois da ocupação aliada de Assunção. Em 1871, sua viúva, dona Panfília Luiza Tolentino Soares, passou a receber uma pensão anual de 720 mil-réis.
O parlamento aprovou a pensão para viúvas de mais quatro oficiais zuavos falecidos: Sabina Joana do Espírito Santo (viúva de Quirino), Francisca Maria da Conceição (viúva de Tolentino), Josefina das Trevas Lima (viúva de Inocêncio) e Arcanja de
São Miguel Silva Serra (viúva de Augusto Francisco da Silva).
Infelizmente, nenhum desses homens deixou documentos que possam revelar sua visão política de forma tão extensa como fez o alferes Candido da Fonseca Galvão, melhor conhecido na década de 1880 no Rio de Janeiro como Dom Obá II, numa longa série de artigos nosjornais fluminenses. Como a maioria dos veteranos, eles se reintegraram à população livre e pobre de cor da qual tinham sido recrutados.
Em Salvador a memória dos zuavos perdurou. No início do século XX, Manoel Querino registrou seus nomes e seus feitos militares a partir de
tradições orais.
Fonte: O Exército e a Abolição. Claudio Moreira Bento/OS COMPANHEIROS DE DOM OBÁ:OS ZUAVOS BAIANOS E OUTRAS COMPANHIAS NEGRAS NA GUERRA DO PARAGUAI
Hendrik Kraay
segunda-feira, 7 de abril de 2025
O Guerreiro Indigena Araribóia
sábado, 5 de abril de 2025
Antiga Capoeira Carioca
A antiga capoeira carioca.
Por Matthias Röhrig Assunção.
O Rio de Janeiro teve a capoeira mais desenvolvida de todas as cidades brasileiras durante o século XIX. Originalmente desenvolvida por africanos escravizados e crioulos, ela se espalhou para as classes livres mais baixas durante o curso do século. Maltas, ou gangues de capoeira, se formaram em uma base territorial ao redor de praças de igrejas e bairros vizinhos. Durante a última parte do Império Brasileiro, essas maltas se congregaram em duas federações abrangentes, os Nagoas e os Guaiamus. Os Nagoas se aliaram ao partido Conservador, e os Guaiamus aos Liberais, ajudando-os a fraudar eleições. Por essa razão, o novo regime republicano reprimiu as gangues de capoeira após a proclamação da República em 1889. Centenas de capoeiras conhecidos foram presos e deportados para Fernando Noronha, uma ilha distante do Atlântico, e outros locais. A prática da capoeira e as gangues foram proibidas pelo novo Código Penal Republicano. Os praticantes podiam ser condenados à prisão e trabalho forçado por seis meses, e penas ainda mais severas eram prescritas para os líderes de gangues.
O Malho (revista)
A capoeira desapareceu das ruas do Rio de Janeiro. No entanto, o quanto dela sobreviveu em locais mais discretos é uma questão controversa. Alguns afirmam que as técnicas de luta da capoeira ainda eram passadas em bairros populares ou favelas. Prata Preta, um líder do motim antivacinação em 1904, confiou em suas habilidades de capoeira para defender as barricadas de seu bairro na área portuária (representado à esquerda, em uma caricatura da revista O Malho ).
Algumas das técnicas corporais foram recicladas na batucada, ou pernada carioca, um jogo que acompanhava apresentações informais de rodas de samba. Várias técnicas, principalmente chutes, começaram a ser ensinadas em academias de artes marciais por pessoas como Jaime Ferreira e Sinhozinho na década de 1930. E muitos vagabundos (malandros) usavam técnicas de capoeira em brigas de rua. Sete Coroas era um malandro famoso, supostamente um dos professores de Satã. De longe, a mais famosa delas é Madame Satã.
Por KK Bonates – Luiz Carlos de Matos Bonates
Em 10 de novembro de 1904, uma série de protestos populares ocorreram nas ruas do Rio de Janeiro, então capital da República, contestando a vacinação compulsória contra a varíola, o que resultou em confrontos com as forças de segurança que duraram até 16 de novembro. Para conter a rebelião popular, o estado de sítio foi decretado e a obrigação de vacinar foi revogada. Essa convulsão social foi chamada de “Motim da Vacinação”.
Essa convulsão social foi chamada de “Motim da Vacinação” ou “Quebra do Poste” e seu balanço oficial foi de 30 mortos, 110 feridos e 945 pessoas presas na ilha das Cobras [quartel-general da Marinha na Baía de Guanabara]. Estes últimos foram então deportados, se estrangeiros, e exilados para o norte do país, se brasileiros, principalmente para o Acre, na época, território federal recém-incorporado ao Brasil.
Uma das figuras de destaque dessa revolta foi o estivador e capoeira Horácio José da Silva, conhecido como “Prata Preta”, que é reconhecido por muitos por sua liderança em um dos principais redutos da resistência popular, a barricada do Porto Arthur, localizada no bairro da Saúde, assim chamada em referência à violenta batalha ocorrida na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905).
O banimento dos socialmente indesejáveis para a Amazônia, lugar distante, fronteiriço e rústico, remonta à época da colônia portuguesa e se estende às primeiras décadas da República. A grande maioria desses indesejáveis era caracterizada como sendo pobres, criminosos ou promotores de desordem social.Capoeira Contemporânea
Prata Preta: uma capoeira exilada
Por KK Bonates – Luiz Carlos de Matos Bonates
Em 10 de novembro de 1904, uma série de protestos populares ocorreram nas ruas do Rio de Janeiro, então capital da República, contestando a vacinação compulsória contra a varíola, o que resultou em confrontos com as forças de segurança que duraram até 16 de novembro. Para conter a rebelião popular, o estado de sítio foi decretado e a obrigação de vacinar foi revogada. Essa convulsão social foi chamada de “Motim da Vacinação”.
Essa convulsão social foi chamada de “Motim da Vacinação” ou “Quebra do Poste” e seu balanço oficial foi de 30 mortos, 110 feridos e 945 pessoas presas na ilha das Cobras [quartel-general da Marinha na Baía de Guanabara]. Estes últimos foram então deportados, se estrangeiros, e exilados para o norte do país, se brasileiros, principalmente para o Acre, na época, território federal recém-incorporado ao Brasil.
Uma das figuras de destaque dessa revolta foi o estivador e capoeira Horácio José da Silva, conhecido como “Prata Preta”, que é reconhecido por muitos por sua liderança em um dos principais redutos da resistência popular, a barricada do Porto Arthur, localizada no bairro da Saúde, assim chamada em referência à violenta batalha ocorrida na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905).
O banimento dos socialmente indesejáveis para a Amazônia, lugar distante, fronteiriço e rústico, remonta à época da colônia portuguesa e se estende às primeiras décadas da República. A grande maioria desses indesejáveis era caracterizada como sendo pobres, criminosos ou promotores de desordem social.
Na maioria dos casos, o tratamento de “grandes bengalas” indesejáveis, ou seja, aqueles da burguesia, como oficiais militares de alta patente, políticos influentes e jornalistas, era diferente do tratamento de “pequenas bengalas” vindas das classes mais baixas. Como regra, a “grande bengala” era processada, mas continuava a viver em seu local de origem. Ele era primeiro preso, depois anistiado e retornava à vida pública.
O transporte dos desterrados de 1904 para o Acre era feito por navios movidos a vapor conhecidos como “Itas”, pertencentes à “Companhia Nacional de Navegação Costeira” e contratados pelo Governo Federal para o transporte dos desterrados.
Os prisioneiros eram mantidos nos porões dos navios em condições promíscuas e sem direito de subir ao topo, sendo vigiados por um forte contingente de militares.
Três navios foram responsáveis pelo transporte dos deportados de 1904 - Itaipava, com duas viagens, Itaperuna e Itapacy, com uma viagem cada,
A viagem entre o Rio de Janeiro e Belém do Pará durava, em média, onze dias, e entre Belém e Manaus, cinco dias. Em Manaus, os deportados eram transferidos para barcos regionais de menor calado, as gaiolas ou barcaças. Esses barcos seguiam então até o Território do Acre e, dependendo do destino ali, navegavam por um dos três afluentes do Rio Amazonas, os rios Madeira, Purus ou Juruá. Se o porto de destino fosse Penápolis (antiga Vila Empreza, atual Rio Branco) ou Senna Madureira, o tempo médio da viagem era de 15 dias. Para ir até Cruzeiro do Sul, sede do Departamento do Alto Juruá, eram cerca de 20 dias.
Prata Preta, um indesejável “caneca”, foi preso em 17-11-1904, às 9 da manhã, do lado de fora das trincheiras do “Porto Arthur”. Ele portava dois revólveres, uma faca e um canivete; seu corpo estava marcado por hematomas causados por uma espada. Diz a lenda que ele comandava cerca de 2.000 rebeldes. Ele foi levado junto com outros 96 prisioneiros para a Ilha das Cobras para depois ser embarcado para o Acre.
Não há muita informação bibliográfica ou tradição oral sobre Prata Preta. O pouco que temos vem de jornais, revistas e almanaques do período, que dependendo de sua postura ideológica (pró-monarquia, republicana ou anarquista) afirmam ou negam sua liderança popular, tornando-o um herói ou um vilão, como mostram os exemplos a seguir:
Essa convulsão social foi chamada de “Motim da Vacinação” ou “Quebra do Poste” e seu balanço oficial foi de 30 mortos, 110 feridos e 945 pessoas presas na ilha das Cobras [quartel-general da Marinha na Baía de Guanabara]. Estes últimos foram então deportados, se estrangeiros, e exilados para o norte do país, se brasileiros, principalmente para o Acre, na época, território federal recém-incorporado ao Brasil.
Prata Preta é um homem presumivelmente de 30 anos, alto, de compleição robusta, completamente imberbe. Sua fama de homem valente e briguento não era exagerada, pois era visto nos pontos mais perigosos das trincheiras e barricadas, atirando de fuzil nas forças atacantes… Parece que Prata Preta era considerado o General Stoessel de Porto Arthur do bairro da Saúde.”
A Notícia , 16 e 17/11/1904, XI, n 271, p 1.
A muito custo foi levado para a Delegacia Central, sendo previamente desarmado… deu seu nome como Horácio José da Silva e foi obrigado a vestir uma camisa de força, e colocado na cadeia. Este negro tem o apelido de “Black Silver” e, por sua bravura como famoso encrenqueiro, fora proclamado chefe das revoltas do distrito da Saúde.”
Jornal do Commercio , 17/11/1904, n 521, p 2.
… um homem negro terrível, um verdadeiro demônio. Esse homem negro, alto, musculoso, forte entre os mais fortes, logo assumiu uma certa supremacia, assumindo as funções de chefe das masmorras. Armado com um grosso pedaço de cabo, logo entrou espancando bestialmente, ferozmente, seus companheiros de infortúnio, só os abandonando quando o sangue vermelho esguichou das feridas”
Jornal do Brasil , 28/12/1904, p. 2.
Tudo era mentira, mas ainda havia “Black Silver” ali…um preto! Fomos então conhecer a história do celebrado Prata. Agora, Prata também é adepto de saques. Não se sabe até agora qual personagem mais se destacou nas famosas perturbações. Prata Preta costuma parar nos bares das ruas Conceição e São Jorge., Ele é um grande bebedor, e costuma ficar bêbado. Os últimos conflitos o excitaram, tanto quanto ele excitava as rameiras, fazendo-as gritar “mata”! em ataques histéricos. Nosso Prata Preta nunca foi corajoso.”
↑ Gazeta de Notícias , 18/11/1904, "A última ilusão", p. 2.
Sobre o degredo de Prata Preta para o Acre encontramos algumas referências em jornais que apenas citam o fato, mas devido ao uso partidário e ideológico do nome Prata Preta pela imprensa e à falta de documentação plausível que o sustente, o que resta são pistas, indícios e algumas evidências de que Prata Preta foi realmente degredado e só retornou ao Rio de Janeiro anos depois.
Sobre essas pistas e evidências, citamos aqui a crônica de Armando Sacramento “O K. Abrahão” e a descrição de um carro alegórico do carnaval de 1905 que tinha como tema a barricada “Port Arthur” do bairro da Saúde:
Ainda perseguido pelo homem dos óculos, um dia K. Abraham quase foi levado para o Acre junto com o Prata Preta. Após algumas explicações foi jogado para fora e desde então, para evitar outro emaranhado semelhante, não saiu mais de cena.”
O Rio Nu , 3/4/1905, edição 695, página 2.
O Porto Arthur, do bairro da Saúde, é outro carro alegórico de crítica. Num vagão onde se lê a inscrição – Hospital de sangue, há um grande canhão… coberto. Do lado direito, uma faixa vermelha indicava o espírito guerreiro de façanhas incômodas sob a liderança do intrépido Prata Preta. Lâmpadas quebradas cercam o carro, em sublime verve de espíritos democráticos. Uma guarda de honra de acreanos, carregando o machado e a caneca que os regenerará na terra da borracha.”
↑ Gazeta de Noticias , 3/4/1905, "Pepinos Carnavalescos", edição 63, página 2.
Por fim, Silva (2013) informa, sem maiores detalhes, que Prata Preta foi exilado para o Acre em 25 de dezembro de 1904 e embarcado no navio Itaipava junto com centenas de outros deportados desconhecidos.
Segundo Bonates (2016); Bonates & Cruz (2020) o registro documental mais antigo da presença da capoeira no Estado do Amazonas até a data deste ensaio é de 1899, porém, evidências indicam comportamentos sociais relacionados à cultura da capoeira ou à ação de capoeiristas em datas anteriores, que podem ser rastreados até a época da Revolta da Cabanagem (1835-1840).
Intrigante é o fato de a capoeira não ser mencionada nas notícias amazônicas até as festividades carnavalescas de fevereiro de 1905, portanto logo após a chegada dos degredados. Os registros aumentam até 1920, quando o ciclo econômico da borracha entra em colapso e só reaparecem a partir de 1972, com a chegada de Julival do Espírito Santo, o mestre de capoeira Gato de Silvestre, em pleno boom econômico da Zona Franca de Manaus.
A construção da memória sobre Sete Coroas, o mais famoso “bandido” da Primeira República
No início da década de 1920, um morador anônimo do morro e favela – hoje conhecido como Morro da Providência – realizou um assalto inusitado durante um funeral de gala. A quantidade e a qualidade dos objetos roubados nessa ação resultaram em um apelido pelo qual em pouco tempo ele seria conhecido em toda a cidade do Rio de Janeiro: Sete Coroas. Seus roubos audaciosos fizeram sua trajetória sair dos registros policiais e ganhar manchetes nas páginas policiais de jornalistas, palcos de teatro e entrar para a obra de escritores e compositores de música popular.”
Rômulo Costa Mattos, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), Rio de Janeiro, pesquisou a história de Sete Coroas e teve a gentileza de disponibilizar seu artigo em nosso site. Por enquanto só temos em português o texto A Construção da Memória sobre Sete Coroas, o mais famoso "criminoso" da Primeira República.
O discípulo
Conheci Leopoldina em 1965, aos 18 anos. Ele tinha 31 anos e, apesar de estar em ótima forma, cheio de energia, com um corpo magro e musculoso, muito tonificado, seu rosto parecia o de um homem muito mais velho. O curioso é que, com o passar dos anos, seu rosto e corpo permaneceram quase os mesmos.
Eu cursava a Escola de Engenharia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), localizada em uma ilha da Baía de Guanabara chamada Ilha do Fundão. Leopoldina ensinava capoeira na Atlética, departamento de esportes de lá.
Leopoldina era gentil e amigável com os alunos. Ele não permitia que um aluno mais velho ou mais experiente batesse em um iniciante. Ele carregava os alunos mais interessados para o samba, candomblé e umbanda, para os morros e para os desfiles de carnaval na Avenida Presidente Vargas.
Mestres Nestor Capoeira e Leopoldina
Foi um grande Mestre sem nem mesmo tentar sê-lo, que introduziu aqueles universitários, eu entre eles, à cultura “popular” brasileira; à filosofia da malandragem de alto astral – “o bom negócio é bom para todos” (em oposição à chamada Lei Gérson, “eu tiro o melhor de todos”, os 171 fraudadores e golpistas comuns); e com uma abordagem radical e revolucionária em relação às mulheres e ao sexo em comparação à moral burguesa e às abordagens machistas: “Ninguém é de ninguém”.
Leopoldina achava que as aulas de capoeira deveriam ser ministradas apenas duas vezes por semana, e que deveriam durar uma hora; o restante do tempo seria para rodas e brincadeiras.
Seu método de ensino consistia em um breve aquecimento (uma corrida pela sala e alguns polichinelos), alguns golpes e contragolpes em duplas de alunos (semelhantes aos que ele aprendeu com Artur Emídio , que por sua vez baseou isso nos exercícios do Mestre Bimba). Ocasionalmente, havia treinamento de chutes, com os alunos se aproximando de uma cadeira em uma fileira e dando um golpe sobre a cadeira um por um, e no final da aula, havia uma roda de quinze a vinte minutos. As aulas geralmente tinham de quatro a oito alunos. Leopoldina nunca foi o que seria considerado "bem-sucedido" em termos de número de alunos, nem lecionou por mais de cinco anos no mesmo local.
quinta-feira, 27 de março de 2025
Mestre Tiburcinho
Texto e fotos de Jair Moura
28 de fev 1970
Começando a sua vida de jogador de batuque nos primórdios dêste século, Tibúrcio José de Santana, conhecido nos meios do “jôgo de vadiação” como Tiburcinho, teve como mestre de batuque o velho Bernardo José de Cosme, figura respeitada lá em Jaguaripe pelo seu espírito vivaz, e lutador dos melhores daquela época. Sempre teve as apresentações do jogo subsidiário da capoeira nos festejos de Nossa Senhor D’Ajuda ou nas tradicionais romarias.
Segundo o Tiburcinho, os grandes batuqueiros dos idos de 1900, eram Lúcio Grande, de Nazare das Farinhas, Manuel João, Pedro Gustavo de Brito, Liberato, Gregório Tapera, Pedro Correia, Francisco Chiquetada, Joaquim Grosso, Zeca de Sinhá Purcina, Leocádia Silva de Maria Arcanja, Euclides Lemos (Caco), Teotônio, Antônio Frederico, Eusébio de Tapuiquara, este último escravo da família Abdon do município de Jaguaripe.
Afirma Tiburcinho, que o batuque era um jôgo, cuja competição era formada por dois contendores tendo como ponto fundamental de defesa os órgãos sexuais, devido as violências dos golpes destinados ao desequilíbrio de cada um dos lutadores, cujos ataques eram desferidos coxa contra coxa acrescentando ao golpe uma “rapa” ou “banda” além do “baú” que é um golpe de desequilíbrio. Tôda a atenção para a luta era tomada em posição de “banda solta” ou seja forma de defesa que ambos os batuqueiros ficam de frente, equilibrados numa única perna em posição primitiva.
BATUQUE
Apesar de sua idade ultrapassar os oitenta e seis anos*, Tibúrcio permanece relativamente com a mesma disposição orgánica, dos velhos tempos, ressentindo apenas, algumas vêzes, a falta de memória. Sempre êle esquece o lugar onde guardou as coisas. Contudo ao relembrar sua vida de ex-batuqueiro, a mente torna-se clara, e entre sorrisos, descreve os fatos como se estivesse vivendo-os durante a narração. Para êle o batuque foi criminosamente esquecido por todos. Apesar de ter sido uma luta condenada pela polícia, devido as conseqüências, quase sempre terminava em conflitos, com intervenções das autoridades, trata-se de um aspeto de nossos costumes populares, e não se justifica o ostracismo em que hoje se encontra. As competições geralmente realizadas em Jaguaripe e Nazaré tinham como marcação do rítmo o pandeiro, “tambaque” (tambor de guerra), e cantigas populares entre elas esta a mais tradicional, cujas estrofes assim eram entoadas: * 1970-86=1884. Talvéz Jair Moura colocou ano 1878 para o livreto de Dança de Guerra em 1968, mas em 1970 pediu M Tiburcinho especificar e ele deu seu idade de 86.
Fonte [velhosmestres.com]
Entrevista feita por Mestre de Capoeira e escritor Jair Moura
UM DIA COMO HOJE: Tiburzinho fala do batuque num jornal (28/02/1970)
O Jornal A Tarde, de 28 de fevereiro de 1970, sob o título “Tiburcinho e Batuque, de autoria de Jair Moura”, Tiburcinho confirma:
O Batuque é um jogo cuja competição era formada por dois contendores, tendo o ponto fundamental de defesa os órgãos sexuais, devido à violência dos golpes destinado ao desequilíbrio de cada um dos lutadores, através de golpes coxa contra coxa, acrescentado à ‘rapa’ ou ‘banda’ além d’do baú’ que é um golpe de desequilibrio […].
Tiburcinho ainda cita os nomes de alguns dos mestres batuqueiros de Jaguaripe: Lucio Grande de Nazaré das Farinhas, Manuel João, Pedro Gustavo de Britto, Liberato, Gregorio Tapera, Pedro Correia, Francisco Chiquetada, Joaquim Grosso, Zéca de Sinhá, Purcina, Leocádia Silva de Maria Arcanja, Euclides Lemos (Caco), Teotonio, Antonio Frederico, Eusébio de Tapiquará, este último escravo da família Abdon” E relembra algumas cantigas populares, marcadas ao som do pandeiro “tampanque” (tambor de guerra), em que seus refrões diziam:
Ê loandê!
Tiririca ê faca de cotá,
Não me cotá mulequinho de sinhá
Mata m’embora
Cada um tira o seu
Vais embora!
Tiburcinho afirma que o Batuque foi criminosamente esquecido por todos. Apesar de ter sido condenado pela polícia, devido ás consequências que quease sempre terminavam em conflitos, trata-se de um aspecto de nossos costumes populares, e “não se justifica o ostracismo em que hoje se encontra”
Fonte: Livro Mestres e Capoeiras Famosos da Bahia, Pedro Abib, 2013

JOGO DA VIDA
terça-feira, 25 de março de 2025
Mestre Samuel Querido de Deus x Mestre Maré
O MELHOR JOGO DE CAPOEIRA NO CAIZ DOURADO DA BAHIA.
SAMUEL QUERIDO DE DEUS E MARÉ.
UMA RODA INESQUECIVEL NO CAIS DOURADO OS DOIS MELHORES CAPOEIRA DA BAHIA NA DECADA DE 30 DA BAHIA DE TODOS OS SANTOS, COMEÇA O JOGO OS BERIMBAUS TOCANDO SÃO BENTO PEQUENO.
AI, AI AIDÊ
JOGA BONITO
QUE EU QUERO APRENDER
SAMUEL QUERIDO DE DEUS FAZ UM AÚ
MAIS LOGO A SEGUIR ENTRA COM UMA CABEÇADA NA CINTURA DO MARÉ, O MARÉ CORTA O SEU AU E É ATINGIDO DE RASPÃO, LOGO A SEGUIR MARÉ DA A VOLTA AO MUNDO E SORRINDO APLICA UMA MEIA LUA NO SAMUEL, SAMUEL SAI DA MEIA LUA FAZENDO UMA NEGATIVA SE LEVANTA E COMEÇA A GINGAR E MARÉ TAMBÉM, SAMUEL PLANTA UMA BANANEIRA E MARÉ ENTRA NUMA CABEÇADA, MAIS SAMUEL DESFAZ A CABEÇADA NUMA ESQUIVA IMEDIATAMENTE , AI A CANTORIA COMEÇA A TOCAR SÃO BENTO GRANDE.
ZUM ZUM ZUM
CAPOEIRA MATA UM
ZUM ZUM ZUM
CAPOEIRA MATA UM
O JOGO FICA MUITO RAPIDO SAMUEL SOLTA UMA MEIA LUA RAPIDA MAIS O MARÉ SE ESQUIVA COM MUITA MAESTRIA AI ELE RECEBE APLAUSOS DA PLATÉIA, DEPOIS DA ESQUIVA MARÉ FAZ UMA ARMADA SAMUEL ENTRA NUMA CABEÇADA MAIS NÃO CONSEGUE ACERTA O MARÉ , O MARÉ SAI RINDO E ELE COMEÇA A DA UMA VOLTA AO MUNDO, E DEPOIS INDO PARA O PÉ DO BERIMBAU, E A CANTORIA COMEÇA A CANTAR.
CUIDADO CAMBUJERÊ
CAPOEIRA QUER TE MATAR
EU QUERO VER EU QUERO VER
EU QUERO VER VOÇE JOGAR
COMEÇA O JOGO DE NOVO SAMUEL E MARÉ SE COMPRIMENTAM NA RODA O POVO APLAUDE OS DOIS
AGORA ELES FAZEM UM JOGO ARROJADO OS DOIS PARECE QUE SE ENROSCA UM POR DENTRO DO OUTRO NUM JOGO MUITO LINDO, MARÉ APLICA NO SAMUEL UMA QUEICHADA MARÉ ENTRA NUMA ARMADA,SAMUEL FAZ UMA MEIA LUA E O MARÉ TENTA LHE DA UMA CABEÇADA SAMUEL SE ESQUIVA E OS DOIS SE ABRAÇAM, A PLATÉIA VIBRA COM OS DOIS MELHORES CAPOEIRA DA BAHIA E O JOGO CHEGA AO FIM
POSTADO POR GERALDO COSTA FILHO ( Mestre Gege Especialista em História Social do Brasil)