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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

MESTRE NASCIMENTO GRANDE


Nascimento Grande
"O gigante do Recife"

Assim como Manduca da praia que reinou entre os malandros do Rio de Janeiro durante o segundo império e Besouro Magangá um dos principais nomes da capoeira baiana nos primeiros anos da República velha, Nascimento Grande foi o maior nome da capoeira de Pernambuco durante o período das maltas até o apogeu das mesmas em 1912.

A data do seu nascimento é incerta, porém o professor, poeta, compositor, pintor e teatrólogo Wanderley Eustorgio(1882-1962), amigo pessoal de Nascimento grande, nos informa no seu livro;
 "Tipos populares do Recife antigo" que o nosso personagem teria nascido em 1942.

Outra grande contribuição vem do escritor, jornalista, historiador e folclorista Luís da Câmara Cascudo (1898—1986), nos dá as seguintes informações.
José Antonio do Nascimento Silva, era estivador trabalhava no caís do porto do Recife, homem alto com 2 m de altura, corpo cheio de musculos, com aproximadamente 130 quilos, mulato com bigodes, de sorriso cordial e cortês, dotado de gentileza e educação. Usava chapeu com abas, tinha nos braços e pernas uma capa de borracha dobrada para amortecer as pancadas dos seus inimigos. Estava sempre acompanhado da sua bengala de quinze quilos, que ele chamava "a volta".Uma bengalada derrubava, duas bengaladas desmaiava, três bengaladas matavam. Há quem diga que essa bengala era de ferro.

Suspeitam se que Nascimento assim como besouro era um homem do povo que não provocava brigas, porém não aceitava injustiças com os menosprezados pela sociedade, ao contrário de Manduca da Praia que prestava serviços a elite e tinha os seus próprios interesses. Mas assim como os outros dois Nascimento não dispensava uma contenda quando topava de frente com outro valente.

Nascimento era adepto do Catimbó(religião nordestina que mistura catolicismo, cadomblé e crenças indígenas), carregava sempre um santo lenho(amuleto voltado para a cruz de cristo) que mantinha o seu corpo fechado, frequentava também os terreiros de cadomblé, e todo domingo estava presente na missa do vigário.

Nascimento era um homem da noite, estava sempre dentro dos cabarés e na boêmia do Recife antigo, as prostitutas lhe adoravam pois o mesmo era defensor das mesmas, Sempre que aparecia um valentão, um cafetão ou mesmo clientes metidos a machões maltratado essas moças, Nascimento comprava a briga. Isso era fato raro entre os antigos malandros, pois a maioria deles judiavam muito dessas moças que não tinham ninguém por elas, os baianos Pedro Mineiro e Pedro Porreta, que muitos acreditam terem sido cafetões de rua na Bahia, estavam sempre sendo detidos por violência contra essas mulheres da noite. 

Nascimento X Pagéu:

Pagéu era do bairro de São José foi um dos mais afamados e perigos valentes que o Recife já viu, um covarde que não tinha dó de surdo, nem de mudo, nem de cego, nem de alejado, espancava mulheres e crianças e era temido até pela policia. Certa vez em um cabaré Pajéu espancou uma moça que se recusou a ter relações sexuais com ele, Nascimento tava lá, comprou a briga da moça e o pau quebrou no local. Pajéu lhe atacou com uma "viana"(faca), na intenção de matá lo, mas Nascimento o desarmou e o espancou. Não contente com isso,  além de fazer o cara vestir a saia que a moça usava Nascimento ainda obrigou o mesmo a fazer sexo oral em um outro cliente que alí se encontrava.

Nascimento X Corre Hoje:

Certa vez em Vitória de Santo Antão, Nascimento defrontou-se com o terrivel e perigoso capoeirista conhecido pela alcunha corre hoje. Há quem diga que o valentão corre Hoje e o valentão Antônio Padroeiro seja a mesma pessoa, porém não existe fonte que comprove essa afirmação. Na ocasiso Corre Hoje e mais sete comparças cercou Nascimento Grande após a missa do Carmo. Durante a briga os comparsas fugiram deixando corre hoje,  ficou sozinho, nesse dia a tragedia inevital aconteceu Nascimento Grande acabou matando o seu desafecto. Porém o que marcou esse dia não a foi a morte do valente e sim a atitude de Nascimento grande, que pegou o corpo e levou até a igreja local exigindo que o padre fizesse um velório cristão. 

Nascimento X João sabe tudo:

Primeiro uma breve descrição sobre João sabe tudo. Esse ao contrário de Nascimento era franzino e de estatura média, e mancava de uma perna devido a um tiro que levou da policia no joelho esquerdo, o mesmo era tão temido e respeitado quanto Nascimento no Recife antigo, eram inimigos mortais e toda vez que se encontravam eram inevitável a contentenda. Nesse dia não foi diferente, Sabe Tudo com uma peixeira e Nascimento com a sua bengala, todos queriam ver a briga e a multidão se formou, os dois maiores valentes de Pernambuco mais uma vez se enfrentavam, a polícia não se meteu por que não teve coragem, a briga durou muito tempo, e só parou por que durante a pancadaria foram parar na frente da igreja com a multidão que os acompanhavam, o padre da igreja local teve que intervir e ordenou aos valentes que respeitassem a casa de Deus. Ambos por serem muito religiosos acataram a decisão do padre e pararam a briga já quase desfalecidos, ambos estavam muito machucados e a briga terminou sem um ganhador.

No início do séc. XX, Nascimento teria ido para o Rio de Janeiro com um grupo de retirantes e lá ele se defrontou com um dos mais perigosos capoeiristas do Rio o malandro e boêmio Miguel camisa preta Camisa Preta, um dos mais temidos capoeiristas do Rio de Janeiro, nesse confronto Nascimento teria lhe matado, porém essa versão é contestada pelos cariocas que atribui a morte do antigo malandro a uma emboscada.

Quanto morte de Nascimento grande alguns dizem que o mesmo teria morrido no Recife com mais de cem, após a sua volta do Rio de Janeiro. Outros dizem que ele morreu no Rio de Janeiro por volta de 1936 aos 94 anos de idade. 
Reza a lenda que antes da sua possível morte no Rio de Janeiro em 1936, Nascimento se meteu em uma última briga. Já idoso ele teria comprado um abacaxi e ao chegar em casa se deu conta que o abacaxi estava estragado e voltou para devolver, o vendedor achando que aquele ancião era um velhinho qualquer resolveu tirar uma onda da cara do nosso personagem e levou uma tremenda surra.

Uma breve reflexão:

Ser valentão, brigador, frequentador da noite, obter o respeito da malandragem era a meta da maioria dos capoeiristas, tanto os capoeiras das maltas dos séc. XIX, quanto os boêmios dos grandes centros do séc. XX. Porém homens de destaques como Nascimento Grande(PE), Besouro(BA), Manduca da Praia(RJ), Camisa Preta(RJ), Pedro mineiro(BA), e muitos outros tinham que ter as atenções dobradas no dia a dia, pois além da policia que os perseguiam, também haviam outros valentões tentando destrona los a qualquer custo. Essas brigas de Nascimento grande que parecem ser histórias exageradas eram fatos comuns da época. Imagine um cara que consegue derrotá-lo ou matá-lo? Esse seria respeitado entre os bambas, seria temido pela polícia, teria a mulher que quisesse, emfim obtinha o respeito à moda antiga. Ser valente era sinônimo de ser famoso, destronar um valente era sinal de fama eterna. A boa e a má malandragem andavam lado a lado, e no jogo pela sobrevivência valía de tudo, a mandinga, a covardia, a lealdade, a traição, a verdadeira e falsa amizade, a astúcia, a coragem tudo isso era sinônimo de sobrevivência onde a lei era só uma. "O último a cair era sempre o vencedor".

Fontes:
.Eustórgio Wanderley; 
(Tipos populares do Recife antigo). 1954.

.Luíz da Câmera Cascudo
Historiador, Antropólogo, Advogado, Jornalista e Folclorista brasileiro, que nasceu na virada do séc. XIX para o séc. XX, e chegou a conhecer Nascimento Grande. 
(Histórias que o tempo leva – Ed. Monteiro Lobato, S. Paulo, outubro 1923,1924).
CÂMARA CASCUDO, Luís da. Dicionário do Folclore Brasileiro. 10ª ed., Ediouro, Rio de Janeiro, s/d,

.ARAÚJO, Guilherme de. Capoeiras e Valentões do Recife. Revista do instituto arqueológico, histórico e geográfico pernambucano, Recife:

.Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São P

Texto:
Antônio Luíz dos Santos Campos ( boa alma )

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

MESTRE TOTONHO DE MARÉ

MESTRE TOTONHO DE MARÉ
              (m. maré)

Antônio Laurindo Das Neves nasceu na última década do séc. XIX, no dia 17 de setembro do ano de 1894 na Ilha de Maré, Salvador(BA) era filho de Manoel Gasparino Neves e de Margarida Neves, era 5 anos mais novo que o Mestre Pastinha(1889-1981), 1 ano mais velho que Besouro Magangá(1895-1924), e 6 anos mais velho que o Mestre Bimba(1900-1974). Foi um dos mais afamados entre os antigos capoeiristas da Bahia, o próprio dizia ter aprendido capoeira sozinho. Foi observando mais antigos que ele jogarem que o Mestre Maré desenvolveu o seu aprendizado e depois foi testa-lo pelas ruas de Salvador, com o passar do tempo o mesmo ganhou as rodas e o respeito dos bambas do seu tempo.

Maré compôs o seleto grupo de bambas que frequentava a  gengibirra. A gengibirra era a nata da capieoragem baiana, frequentada por Aberrê, Livino Diogo, Noronha, Amorzinho e muitos outros grandes nomes da  capoeira da Bahia nas primeiras décadas do séc. XX.(inclusive esse último "Amorzinho" era um guarda de quarteirão, foi ele quem entregou ao Mestre Pastinha a responsabilidade de assumir e organizar gengibirra no ano de 1941).

O Mestre Maré era um homem fisicamente muito forte, a sua força, a sua destreza e a sua grande  estatura o-fez ser vencedor de grandes duelos corporais em lutas de rua pela Bahia. Durante a sua juventude, foi por diversas vezes campeão baiano de capoeira(lutas clandestinas organizadas por estivadores do caís que além de Maré tinha o estivador e capoeirista Victor H.U, como um dos grandes campeões, lembrando que o Mestre Bimba foi o primeiro a subir no ringue em lutas oficiais durante os anos 30, inclusive Victor H.U, foi um dos lutadores derrotado pelo criador da regional). Muitos dos antigos angoleiros eram respeitados pelos seus certeiros rabos de arraia, Maré era respeitado pelas suas certeiras e fortes cabeçadas que sempre levava ao chão quem as-recebiam, ora fossem companheiros de jogo, ora fossem adversários de luta em brigas de rua.

Maré foi um capoeirista n'uma época em que a capoeira era proibida pelo código penal, um período onde os seus praticantes a-usavam para os mais variados meios. A capoeira era um meio de sobrevivência, era a principal arma nos conflitos com a polícia, era usada para fazer capangagem política, era usada para marcação de território, era usada nas brigas dentro das casas de prostituição, era usada para guardar casas de jogos, era usada para resolver pendências pessoais e etc. Todos esses fatores faziam a sociedade ver a capoeira e os capoeiristas como um perigo para a sociedade. Ser capoeirista no tempo do Mestre Maré era matar um leão por dia, não bastava ficar atento apenas com a perseguição policial, teria também que se esquivar dos grandes valentões que ganharam as ruas de Salvador nesse período.

Maré assim como o Mestre Noronha não tinha uma roda de capoeira fixa, ele participava das rodas dos amigos geralmente nas festas de largo da Bahia. A voz trêmula da velhice, a barba branca, as rugas no rosto e os cabelos brancos lhe garantiam o respeito de todos dentro da capoeiragem. Não era muito de se meter confusões e só brigava para se defender, foi preso apenas uma vez depois tomar a arma de um homem que queria mata-lo, e após espancar o dito cujo ele foi parar na cadeia. Participou do filme "dança de guerra dirigido pelo Mestre Jair Moura no ano de 1968, um documentário com a participação dos grandes mestres da velha guarda baiana, nesse periodo o Mestre Maré já tinha 74 anos de idade, seis anos antes da sua morte. A única entrevista existente em audio do Mestre Maré  foi gravada justamente por Jair Moura durante as gravações de dança de guerra, além do filme e da entrevista existe também um CD, relativo ao documentário, tudo isso está disponível no YouTube.

Muito pouco se sabe sobre esse importante nome da capoeiragem baiana, um dos mais
importantes nomes da capoeira antiga registrado na história. O Mestre Bimba se referia ao mesmo como "meu companheiro Maré", ambos tinham um respeito muito um pelo outro. Inclusive os antigos angoleiros ao questionarem as gloriosas vitórias do Mestre Bimba no ringue usaram o argumento que ele teria que lutar com o Mestre Maré que era campeão baiano, porém essa luta nunca aconteceu.

Para tristeza da capoeira e da cultura Brasileira, no dia 18 de outubro de 1974 as cortinas do espetáculo da vida se fechou para o mestre Maré, e ele fez a sua passagem aos 80 anos de idade. Oito décadas de muitas aventuras, capoeiragem, alegrias, tristesas, glórias e muitas histórias. Infelizmente Maré não escapou da triste sina da capoeiragem antiga de morrer na miséria, assim como morreu Bimba, Pastinha, Noronha e toda a nata da capoeira baiana.

 "Faço parte do grupo de galanteiros da capoeira "
              (M. Maré)

Fontes:
entrevista cedida por Maré a Jair Moura em 1968.

.MAGALHÃES FILHO JOGO DE DISCURSOS: A DISPUTA POR HEGEMONIA NA TRADIÇÃO DA CAPOEIRA ANGOLA BAIANA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais.

               Texto:
Antônio Luiz dos Santos Campos(boa alma)
Mestre Maré aos 80 anos de idade

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Proibição da Capoeira


No dia de 11 de outubro de 1890 a 126 anos atras através de um decreto de Marechal  Deodoro da Fonseca foi intiguido a legalidade  da CAPOEIRA.assim se tornando crime e repudiada  de todas formas caçada e quase erradicada do  nosso Brasil  sendo preso os seus praticantes e mandado pra o presídio Fernando de Noronha. E SÓ sendo removida do código  penal em 1937 pelo sr nosso presidente Getúlio  Vargas. 


DECRETO  N. 847 – DE 11 DE OUTUBRO DE 1890



O Generalissimo Manoel Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo Provisorio da Republica dos Estados Unidos do Brazil, constituido pelo Exercito e Armada, em nome da Nação, tendo ouvido o Ministro dos Negocios da Justiça, e reconhecendo a urgente necessidade de reformar o regimen penal, decreta o seguinte: CODIGO PENAL DOS ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL

LIVRO III - Das contravenções em especie

CAPITULO XIII - DOS VADIOS E CAPOEIRAS

Art. 399. Deixar de exercitar profissão, officio, ou qualquer mister em que ganhe a vida, não possuindo meios de subsistencia e domicilio certo em que habite; prover a subsistencia por meio de occupação prohibida por lei, ou manifestamente offensiva da moral e dos bons costumes:

Pena – de prisão cellular por quinze a trinta dias.

§ 1º Pela mesma sentença que condemnar o infractor como vadio, ou vagabundo, será elle obrigado a assignar termo de tomar occupação dentro de 15 dias, contados do cumprimento da pena.

§ 2º Os maiores de 14 annos serão recolhidos a estabelecimentos disciplinares industriaes, onde poderão ser conservados até á idade de 21 annos.

Art. 400. Si o termo for quebrado, o que importará reincidencia, o infractor será recolhido, por um a tres annos, a colonias penaes que se fundarem em ilhas maritimas, ou nas fronteiras do territorio nacional, podendo para esse fim ser aproveitados os presidios militares existentes.

Paragrapho unico. Si o infractor for estrangeiro será deportado.

Art. 401. A pena imposta aos infractores, a que se referem os artigos precedentes, ficará extincta, si o condemnado provar superveniente acquisição de renda bastante para sua subsistencia; e suspensa, si apresentar fiador idoneo que por elle se obrigue.

Paragrapho unico. A sentença que, a requerimento do fiador, julgar quebrada a fiança, tornará effectiva a condemnação suspensa por virtude della.

Art. 402. Fazer nas ruas e praças publicas exercicios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em correrias, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumultos ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal:

Pena – de prisão cellular por dous a seis mezes.

Paragrapho unico. E' considerado circumstancia aggravante pertencer o capoeira a alguma banda ou malta. Aos chefes, ou cabeças, se imporá a pena em dobro.

Art. 403. No caso de reincidencia, será applicada ao capoeira, no gráo maximo, a pena do art. 400.

Paragrapho unico. Si for estrangeiro, será deportado depois de cumprida a pena.

Art. 404. Si nesses exercicios de capoeiragem perpetrar homicidio, praticar alguma lesão corporal, ultrajar o pudor publico e particular, perturbar a ordem, a tranquilidade ou segurança publica, ou for encontrado com armas, incorrerá cumulativamente nas penas comminadas para taes crimes.

Mestre Bicheiro