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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

MESTRE FRANCISCO 45

Francisco Tomé dos Santos  Filho

 O Mestre Bigo, nasceu em 1946, em Salvador-Bahia. Iniciou na capoeira em meados dos anos 50, após assistir a uma apresentação de capoeira onde viu Mestre Pastinha e Mestre Cobrinha Verde num emaranhado de corpos.Treinou na Academia de Mestre Pastinha até 1975 (época em que casou-se e veio para São Paulo), convivendo com grandes expoentes da capoeira, como: João Grande, João Pequeno, Natividade, Papo Amarelo, Jonas, Bola Sete, Gildo Alfinete, Genésio Meio Quilo, Roberto Satanás, entre outros.Após chegar em São Paulo ficou um tempo afastado da capoeira, mas afirma que em momento algum esteve separado dela, pois a capoeira está no seu sangue, correndo em suas veias. Em 1989, Mestre Bigo fundou a Academia de Capoeira Angola Ilê Axé, onde realiza um trabalho até hoje.

Confira abaixo a entrevista exclusiva que Mestre Bigo concedeu à Revista Praticando Capoeira.
            P. Capoeira: Como era a Capoeira Angola na época em que você começou a praticar?
            Era um pouco diferente. Mestre Pastinha treinava Angola corrida e Angola amarrada. A Angola corrida era perigosa. Nós trocávamos pau com o pessoal da Regional. O regional levantava a perna lá em cima e o angoleiro dava rasteira. O angoleiro não levanta a perna lá em cima, pois sabe que se levantar vai cair.
            Antes, para cada jogo era cantada uma ladainha, depois vinha o improviso e depois o corrido. O capoeirista jogava um certo tempo, então parava a roda e começava a cantar outra ladainha. Tomava muito tempo da gente. Hoje em dia têm mais capoeiristas e em virtude disso, tem menos tempo para jogar na roda.
            P. Capoeira: Muitos capoeiristas que praticam Capoeira Regional afirmam que a Capoeira Angola é fraca como arte marcial. Qual a sua opinião?
            Não acho não. A angola tem mais malícia. A Regional é só ataque, defesa e raiva. O angoleiro entra na roda dando risada. Capoeira são duas cobras. A Regional tem um veneno só. Já a Angola tem o veneno de várias cobras. O Regional entra na roda, fecha a mão, fecha a cara para bater. Quer dizer, é como se fosse uma cascavel, que avisa que vai te pegar. O angoleiro é o contrário. Seria como todas as cobras, que procura atrair o seu agressor e dar risada, para dar um bote só, no momento certo. O angoleiro quando vê que vai dar o bote e não vai pegar, ele não dá. Ele só dá o golpe certo. Na angola são poucos golpes, mas são todos originais. O angoleiro não desperdiça golpe. Angola é malícia, é manha, maldade, falsidade, ataque e defesa, alegria e tristeza. Depois vem a mandinga, que é o tempo que faz. O angoleiro não confia em ninguém. Ele confia e desconfia. Ele finge que não vê, que não escuta. O pessoal da Regional despreza a Angola (sem generalizar), é igual mãe e filho. A Angola é a mãe, e uma mãe nunca despreza o filho. Tem muita gente da Regional indo para a Angola para adquirir conhecimento, pois é na capoeira Angola que está o conhecimento. A Capoeira Angola nasceu na ânsia da liberdade. Ela nasceu como uma luta. Que lutou na Guerra do Paraguai não foi Regional, foi Angola. O pessoal pensa que Angola é fraca, não é não. Quando os angoleiros estão jogando parece que os dois são uma pessoa só, um transmite uma energia muito forte para o outro.
            P. Capoeira: Qual era o sistema de ensino na Academia de Mestre Pastinha?
            Ele começava com a ginga, era o primeiro passo. Depois, o primeiro golpe que ele ensinava era a meia lua de frente, que era para conhecer o seu adversário. Depois ele ensinava mais golpes de frente. Então, ele passava a ensinar os golpes giratórios; rabo de arraia, meia lua de costas e outros.
            Agora, eu e Bola Sete gostávamos de chegar cedo para ficar conversando com o Mestre Pastinha, nós perguntávamos muitas coisas para ele e ele respondia. Ele dava muitos conselhos para nós, como:
            “Sempre dobre uma esquina aberta”
            “Não entre em lugar escuro”
            “Se você desconfiar que uma pessoa está armada, jogue um cigarro aceso em cima dela que ela vai colocar a mão na arma”.
            “Sempre que estiver em um bar, sente-se olhando nos olhos do dono do bar, pois se acontecer qualquer coisa, os olhos dele vão avisar”.
            P. Capoeira: Por que grandes mestres de capoeira Angola estão hoje, de certa forma, “esquecidos”, como aconteceu com Mestre Pastinha no final de sua vida?
            Isso aconteceu mesmo. Eu falo que a Capoeira Angola muitas vezes castiga a gente. Se você anda um pouquinho errado ela castiga a gente. O caso do Mestre Pastinha foi inveja demais. Mestre Pastinha nunca jogou descalço. Antes da viagem dele para a África, ele foi fazer uma exibição num ginásio, na Bahia. Teve uma pessoa que falou para todo mundo jogar descalço, que capoeirista não nasceu calçado. Até esse dia, Mestre Pastinha nunca tinha jogado descalço numa roda de capoeira. Então, Mestre Pastinha tirou o sapato e foi jogar. Enquanto ele estava jogando, colocaram macumba no sapato dele. Mas a pessoa que fez isso também já morreu. O capoeirista sempre tem que pedir muita proteção. Quando o capoeira agacha ao pé do berimbau tem que se benzer, pedir proteção a Deus, pois ele vai para uma roda de capoeira sem saber a intenção de seu oponente. O capoeirista tem que descobrir nos olhos do seu oponente a intenção que ele vai tomar daquele momento em diante. Hoje em dia o capoeirista vai namorar e depois vai para a roda de capoeira; não pode, ele está como o corpo aberto, o capoeirista tem que estar de corpo e espírito limpo para transmitir uma energia positiva na roda de capoeira e em sua vida.
POSTADO POR MESTRE BICHEIRO





terça-feira, 21 de janeiro de 2014

MAE MENININHA


Maria Escolástica da Conceição 
MÃE MENININHA
(Salvador, Bahia, 10 de fevereiro de 1894 - 13 de agosto de 1986) , conhecida como Mãe Menininha do Gantois, foi uma Iyálorixá (mãe-de-santo) brasileira, filha de Oxum.
Nasceu em 1894, no dia de Santa Escolástica, na Rua da Assembléia, entre a Rua do Tira Chapéu e a Rua da Ajuda, no Centro Histórico de Salvador, tendo como pais Joaquim e Maria da Glória. Descendente de escravos africanos, ainda criança foi escolhida para ser Iyálorixá do terreiro Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê, fundado em 1849 por sua bisavó, Maria Júlia da Conceição Nazaré, cujos pais eram originários de Agbeokuta, sudoeste da Nigéria.
Foi apelidada Menininha, talvez por seu aspecto franzino. “Não sei quem pôs em mim o nome de Menininha… Minha infância não tem muito o que contar… Agora, dançava o candomblé com todos desde os seis anos”.
Foi iniciada no culto dos orixás de Keto aos 8 anos de idade por sua tia-avó e madrinha de batismo, Pulchéria Maria da Conceição (Mãe Pulchéria), chamada Kekerê - em referência à sua posição hierárquica, Iyá kekerê (Mãe pequena). Menininha seria sua sucessora na função de Iyalorixá do Gantois. Com a morte repentina de Mãe Pulchéria, em 1918, o processo de sucessão foi acelerado. Por um curto período, enquanto a jovem se preparava para assumir o cargo, sua mãe biológica, Maria da Glória Nazareth, permaneceu à frente do Gantois.
Foi a quarta Iyálorixá do Terreiro do Gantois e a mais famosa de todas as Iyálorixá brasileiras. Sucessora de sua mãe, Maria da Glória Nazareth, foi sucedida por sua filha, Mãe Cleusa Millet. "Minha avó, minha tia e os chefes da casa diziam que eu tinha que servir. Eu não podia dizer que não, mas tinha um medo horroroso da missão (...): passar a vida inteira ouvindo relatos de aflições e ter que ficar calada, guardar tudo para mim, procurar a meditação dos encantados para acabar com o sofrimento." 
O terreiro, que inicialmente funcionava na Barroquinha, na zona central de Salvador, foi posteriormente, transferido para o bairro da Federação onde hoje é o Ilê Axé Iyá Nassô Oká, na Avenida Vasco da Gama, do qual Maria Júlia da Conceição Nazaré sua avó também fazia parte. Com o falecimento da iyalorixá da Casa Branca Iyá Nassô, sucedeu Iyá Marcelina da Silva Oba Tossi. Após a morte desta, Maria Júlia da Conceição e Maria Júlia Figueiredo, disputaram a chefia do candomblé, cabendo à Maria Júlia Figueiredo que era a substituta legal (Iyakekerê) tomar a posse como Mãe do Terreiro. Maria Júlia da Conceição afastou-se com as demais discidentes e fundaram outra Ilé Axé, o (Terreiro do Gantois), instalando-se em terreno arrendado aos Gantois - família de traficantes de escravos e proprietários de terras de origem belga - pelo cônjuge de Maria Júlia, o negro alforriado Francisco Nazareth de Eta.3 Situado num lugar alto e cercado por um bosque, o local de difícil acesso era bem conveniente numa época em que o candomblé era perseguido pelas forças da ordem. Geralmente, os rituais terminavam subitamente com a chegada da polícia.
Em 1922, através do jogo de búzios, os orixás Oxóssi, Xangô, Oxum e Obaluaiyê confirmaram a escolha de Menininha, então com 28 anos. Em 18 de fevereiro daquele ano, ela assume definitivamente o terreiro. "Quando os orixás me escolheram eu não recusei, mas balancei muito para aceitar", contava.
A partir da década de 1930, a perseguição ao candomblé vai arrefecendo, mas uma Lei de Jogos e Costumes, condicionava a realização de rituais à autorização policial, além de limitar o horário de término dos cultos às 22 horas. Mãe Menininha foi uma das principais articuladoras do término das restrições e proibições. "Isso é uma tradição ancestral, doutor", ponderava a iyalorixá diante do chefe da Delegacia de Jogos e Costumes. "Venha dar uma olhadinha o senhor também."
Mãe Menininha abriu as portas do Gantois aos brancos e católicos - uma abertura que, em muitos terreiros, ainda é vista com certo estranhamento. Mas afinal, a Lei de Jogos e Costumes foi extinta em meados dos anos 1970. "Como um bispo progressista na Igreja Católica, Menininha modernizou o candomblé sem permitir que ele se transformasse num espetáculo para turistas", analisa o professor Cid Teixeira, da Universidade Federal da Bahia.
Nunca deixou de assistir à missa e até convenceu os bispos da Bahia a permitir a entrada nas igrejas de mulheres, inclusive ela, vestidas com as roupas tradicionais do candomblé.
Aos 29 anos, Menininha casou-se com o advogado Álvaro MacDowell de Oliveira, descendente de escoceses. Com ele teve duas filhas, Cleusa e Carmem. “Meu marido, quando me conheceu, sabia que eu era do candomblé… A gente viveu em paz porque ele passou a gostar de Candomblé. Mas, quando fui feita Iyalorixá, passamos a morar separados. No meu terreiro, eu e minhas filhas. Marido não. Elas nasceram aqui mesmo”. 
Em uma entrevista à revista IstoÉ, mãe Carmem conta que ela adorava assistir telenovelas, sendo que uma de suas preferidas teria sido Selva de Pedra.7 Era colecionadora de peças de porcelana, louça e de cristais, que guardava muito zelo. Não bebia Coca-Cola, pois certa vez lhe disseram que a bebida servia para desentupir os ralos de pias, e ela temia que a ingestão da bebida fizesse efeito análogo em si.
Mãe Menininha do Gantois faleceu em Salvador em 1986 de causas naturais, aos 92 anos de idade.
POSTADO POR MESTRE BICHEIRO