Nascimento Grande
"O gigante do Recife"
Assim como Manduca da praia que reinou entre os malandros do Rio de Janeiro durante o segundo império e Besouro Magangá um dos principais nomes da capoeira baiana nos primeiros anos da República velha, Nascimento Grande foi o maior nome da capoeira de Pernambuco durante o período das maltas até o apogeu das mesmas em 1912.
A data do seu nascimento é incerta, porém o professor, poeta, compositor, pintor e teatrólogo Wanderley Eustorgio(1882-1962), amigo pessoal de Nascimento grande, nos informa no seu livro;
"Tipos populares do Recife antigo" que o nosso personagem teria nascido em 1942.
Outra grande contribuição vem do escritor, jornalista, historiador e folclorista Luís da Câmara Cascudo (1898—1986), nos dá as seguintes informações.
José Antonio do Nascimento Silva, era estivador trabalhava no caís do porto do Recife, homem alto com 2 m de altura, corpo cheio de musculos, com aproximadamente 130 quilos, mulato com bigodes, de sorriso cordial e cortês, dotado de gentileza e educação. Usava chapeu com abas, tinha nos braços e pernas uma capa de borracha dobrada para amortecer as pancadas dos seus inimigos. Estava sempre acompanhado da sua bengala de quinze quilos, que ele chamava "a volta".Uma bengalada derrubava, duas bengaladas desmaiava, três bengaladas matavam. Há quem diga que essa bengala era de ferro.
Suspeitam se que Nascimento assim como besouro era um homem do povo que não provocava brigas, porém não aceitava injustiças com os menosprezados pela sociedade, ao contrário de Manduca da Praia que prestava serviços a elite e tinha os seus próprios interesses. Mas assim como os outros dois Nascimento não dispensava uma contenda quando topava de frente com outro valente.
Nascimento era adepto do Catimbó(religião nordestina que mistura catolicismo, cadomblé e crenças indígenas), carregava sempre um santo lenho(amuleto voltado para a cruz de cristo) que mantinha o seu corpo fechado, frequentava também os terreiros de cadomblé, e todo domingo estava presente na missa do vigário.
Nascimento era um homem da noite, estava sempre dentro dos cabarés e na boêmia do Recife antigo, as prostitutas lhe adoravam pois o mesmo era defensor das mesmas, Sempre que aparecia um valentão, um cafetão ou mesmo clientes metidos a machões maltratado essas moças, Nascimento comprava a briga. Isso era fato raro entre os antigos malandros, pois a maioria deles judiavam muito dessas moças que não tinham ninguém por elas, os baianos Pedro Mineiro e Pedro Porreta, que muitos acreditam terem sido cafetões de rua na Bahia, estavam sempre sendo detidos por violência contra essas mulheres da noite.
Nascimento X Pagéu:
Pagéu era do bairro de São José foi um dos mais afamados e perigos valentes que o Recife já viu, um covarde que não tinha dó de surdo, nem de mudo, nem de cego, nem de alejado, espancava mulheres e crianças e era temido até pela policia. Certa vez em um cabaré Pajéu espancou uma moça que se recusou a ter relações sexuais com ele, Nascimento tava lá, comprou a briga da moça e o pau quebrou no local. Pajéu lhe atacou com uma "viana"(faca), na intenção de matá lo, mas Nascimento o desarmou e o espancou. Não contente com isso, além de fazer o cara vestir a saia que a moça usava Nascimento ainda obrigou o mesmo a fazer sexo oral em um outro cliente que alí se encontrava.
Nascimento X Corre Hoje:
Certa vez em Vitória de Santo Antão, Nascimento defrontou-se com o terrivel e perigoso capoeirista conhecido pela alcunha corre hoje. Há quem diga que o valentão corre Hoje e o valentão Antônio Padroeiro seja a mesma pessoa, porém não existe fonte que comprove essa afirmação. Na ocasiso Corre Hoje e mais sete comparças cercou Nascimento Grande após a missa do Carmo. Durante a briga os comparsas fugiram deixando corre hoje, ficou sozinho, nesse dia a tragedia inevital aconteceu Nascimento Grande acabou matando o seu desafecto. Porém o que marcou esse dia não a foi a morte do valente e sim a atitude de Nascimento grande, que pegou o corpo e levou até a igreja local exigindo que o padre fizesse um velório cristão.
Nascimento X João sabe tudo:
Primeiro uma breve descrição sobre João sabe tudo. Esse ao contrário de Nascimento era franzino e de estatura média, e mancava de uma perna devido a um tiro que levou da policia no joelho esquerdo, o mesmo era tão temido e respeitado quanto Nascimento no Recife antigo, eram inimigos mortais e toda vez que se encontravam eram inevitável a contentenda. Nesse dia não foi diferente, Sabe Tudo com uma peixeira e Nascimento com a sua bengala, todos queriam ver a briga e a multidão se formou, os dois maiores valentes de Pernambuco mais uma vez se enfrentavam, a polícia não se meteu por que não teve coragem, a briga durou muito tempo, e só parou por que durante a pancadaria foram parar na frente da igreja com a multidão que os acompanhavam, o padre da igreja local teve que intervir e ordenou aos valentes que respeitassem a casa de Deus. Ambos por serem muito religiosos acataram a decisão do padre e pararam a briga já quase desfalecidos, ambos estavam muito machucados e a briga terminou sem um ganhador.
No início do séc. XX, Nascimento teria ido para o Rio de Janeiro com um grupo de retirantes e lá ele se defrontou com um dos mais perigosos capoeiristas do Rio o malandro e boêmio Miguel camisa preta Camisa Preta, um dos mais temidos capoeiristas do Rio de Janeiro, nesse confronto Nascimento teria lhe matado, porém essa versão é contestada pelos cariocas que atribui a morte do antigo malandro a uma emboscada.
Quanto morte de Nascimento grande alguns dizem que o mesmo teria morrido no Recife com mais de cem, após a sua volta do Rio de Janeiro. Outros dizem que ele morreu no Rio de Janeiro por volta de 1936 aos 94 anos de idade.
Reza a lenda que antes da sua possível morte no Rio de Janeiro em 1936, Nascimento se meteu em uma última briga. Já idoso ele teria comprado um abacaxi e ao chegar em casa se deu conta que o abacaxi estava estragado e voltou para devolver, o vendedor achando que aquele ancião era um velhinho qualquer resolveu tirar uma onda da cara do nosso personagem e levou uma tremenda surra.
Uma breve reflexão:
Ser valentão, brigador, frequentador da noite, obter o respeito da malandragem era a meta da maioria dos capoeiristas, tanto os capoeiras das maltas dos séc. XIX, quanto os boêmios dos grandes centros do séc. XX. Porém homens de destaques como Nascimento Grande(PE), Besouro(BA), Manduca da Praia(RJ), Camisa Preta(RJ), Pedro mineiro(BA), e muitos outros tinham que ter as atenções dobradas no dia a dia, pois além da policia que os perseguiam, também haviam outros valentões tentando destrona los a qualquer custo. Essas brigas de Nascimento grande que parecem ser histórias exageradas eram fatos comuns da época. Imagine um cara que consegue derrotá-lo ou matá-lo? Esse seria respeitado entre os bambas, seria temido pela polícia, teria a mulher que quisesse, emfim obtinha o respeito à moda antiga. Ser valente era sinônimo de ser famoso, destronar um valente era sinal de fama eterna. A boa e a má malandragem andavam lado a lado, e no jogo pela sobrevivência valía de tudo, a mandinga, a covardia, a lealdade, a traição, a verdadeira e falsa amizade, a astúcia, a coragem tudo isso era sinônimo de sobrevivência onde a lei era só uma. "O último a cair era sempre o vencedor".
Fontes:
.Eustórgio Wanderley;
(Tipos populares do Recife antigo). 1954.
.Luíz da Câmera Cascudo
Historiador, Antropólogo, Advogado, Jornalista e Folclorista brasileiro, que nasceu na virada do séc. XIX para o séc. XX, e chegou a conhecer Nascimento Grande.
(Histórias que o tempo leva – Ed. Monteiro Lobato, S. Paulo, outubro 1923,1924).
CÂMARA CASCUDO, Luís da. Dicionário do Folclore Brasileiro. 10ª ed., Ediouro, Rio de Janeiro, s/d,
.ARAÚJO, Guilherme de. Capoeiras e Valentões do Recife. Revista do instituto arqueológico, histórico e geográfico pernambucano, Recife:
.Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São P
Texto:
Antônio Luíz dos Santos Campos ( boa alma )
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