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quarta-feira, 12 de novembro de 2014
terça-feira, 4 de novembro de 2014
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Samuel Querido de Deus
GRANDE
LUTA ENTRE CAPOEIRAS
Aconteceu que no
segundo Congresso de Capoeira realizado no Brasil de 11 a 18 janeiro de 1937 no Brasil, em Salvador Bahia. E esse fato também serviu de base para
o Presidente Getúlio Vargas atual Presidente
do Brasil liberar a capoeira como
folclore e logo a seguir o Presidente Getúlio Vargas tira parcialmente a capoeira do código penal brasileiro. E foi
convidado o redator do Jornal o Estado da Bahia, sendo ilustríssimo Sr. Edson
carneiro para comandar o Congresso.
Sendo assim foram convidado
os melhores capoeira da Bahia, Samuel Querido de Deus, Cicero Navarro (Onça Preta)
e entre outros. E estava assim programada a grande luta de capoeira na época, correu
os rumores por toda a Bahia e todos estavam esperando a grande labuta. E para
acontecer, muitos fatos foram exigidos vários fatores, um deles era que a policia
teria de regulamentar a roda de combate.
E assim o teve, dois capoeiristas então abaixados diante dos músicos, abaixados
ao pé do berimbau. Um era o campeão baiano Samuel Francisco Barreto de Souza, o “Samuel Querido de Deus”, era mulato,alto de
meia idade e muito musculoso, pescador de profissão e o outro era seu adversário
Cicero Navarro “Onça Preta", mais moço, mais baixo e mais gordo, estavam ambos descalços um de calça
branca e chapéu e outro de calça escura
e boné depois trocou por um paleta. Os dois de braços apoiados nas coxas e
olhando para frente e descansando. Eram obrigados aguardar o silencio, obrigação estendia -
se a assistência. A orquestra deu-se o início
a diversão, numa afinada invocação, ecoando um fundo musical melódico e hipnotizante
numa espécie de lamento.
- Tava no pé da cruz
Fazendo minha oração
Quando chegou Catarina
Fazendo figura no chão
Iê aruandê
Iê aruandê camará
Vamu simborá
Iê vamu simborá camará
Joga pra li
Iê joga pra li camará
Vorta d’mundo
Iê vorta d’mundo camará
Era
uma canção de desafio, esperança, resignação com fragmentos, idéias e rebeldia.
Não possuía o único e bem trabalhado, mas resumia-se num tipo de vida e protesto
e fazia começar a luta.
A
luta começou Querido de Deus começou a balançar os quadris, enquanto encarava o
adversário, mostrando-lhe os dentes e
avaliava as suas possibilidades, a luta
envolvia todas as partes do corpos, exceto
as mãos. Precaução exigidas pelo Chefe de Policia, para evitar danos. A medida
que os movimentos se amoldavam a musica,
eles se movimentavam em uma sequencia lenta
de sonhos, que mais pareciam uma dança do que uma luta. Como o regulamento estipulava que os capoeiras não deviam
machucar-se uns aos outros os golpes
tornavam-se postura acrobáticas de valor para o concurso final, com nomes e classificação. Haviam
vários tipos de capoeira com sutilezas na forma, e na sequencia dos golpes modo
de tocar os berimbaus. Querido de Deus, era prodigiosamente agíl nos difíceis encontros
formais com o adversário e sorria constantemente. Enquanto
as canções e rituais rolavam...
-Disseram a minha mulher
Capoeira me venceu
A mulher jurou pé firme
Como isso, não se deu
E
os berimbaus mudaram de tom mais uma vez.
-Era eu era meu mano
Era meu mano era eu
Era eu era meu mano
me alugou uma casa
Nem ele pagou, nem eu
Impertinentemente
com movimentos bonitos, vagarosos, calculados, Samuel Querido de Deus deu uma
leve cabeçada sem tirar o chapéu da cabeça na boca do estomago do adversário no caso onça preta derrubando o
de um modo que ele caiu de cabeça no chão. Então a orquestra estrugiu triunfante.
Zum Zum zum
Capoeira mata um
Zum zum zum
Tiririca é faca de cortar
Tiririca é faca de cortar
Prepara a barriga
pra apanhar
Silenciosos
cessa os desafios, terminada a rodada,
os dois homens andavam e corriam sem descanso
em sentido contrario do relógio um atrás do outro, campeão a frente com os
braços levantados onça preta segura-lhe
os punhos e encosta sua cabeça atrás de seus ombros enquanto a orquestra
cantava e tocava a enfadonha.
No tempo que tinha dinheiro
Camarada me chamava de parente
Quando meu dinheiro acabou
Camarada me chama de valente
até o próximo capitulo continua...
até o próximo capitulo continua...
Relato contado por Mestre Gege
Postado por Mestre Bicheiro
domingo, 5 de outubro de 2014
Peleja de Riachão com o Diabo
Peleja de Riachão com o Diabo
Autor: Leandro Gomes de Barros
Riachão estava cantando
Na cidade de Açu,
Quando apareceu um negro
Da espécie de urubu,
Tinha a camisa de sola
E as calças de couro cru.
Beiços grossos e virados
Como a sola de um chinelo
Um olho muito encarnado
O outro muito amarelo,
Este chamou Riachão
Para cantar um martelo.
Riachão disse: eu não canto
Com negro desconhecido,
Porque pode ser escravo,
E anda por aqui fugido
Isso é dar cauda a nambu
E entrada a negro enxerido.
Negro - Eu sou livre como o vento
A minha linhagem é nobre,
Eu sou um dos mais ilustres
Que o sol deste mundo cobre
Nasci dentro da grandeza
Não saí de raça pobre.
Riachão - Você nega porque quer
Está conhecido demais,
Você anda aqui fugido
Me diga que tempo faz
Se você não foi cativo,
Obras desmentem sinais.
N - Seja livre ou seja escravo
Eu quero é cantar martelo,
Afine a sua viola
Vamos bater-se em duelo
Só com a minha presença
O senhor está amarelo.
R - Vejo um vulto tão pequeno
Que nem o posso enxergar,
Julgo que nem é preciso
Minha viola afinar
Pela ramagem da árvore
Vê-se o fruto que ela dá.
N - Riachão isto são frases
De homem muito atrasado,
Porque são vistos fenômenos
Que na terra têm se dado
Uma cobra tão pequena
Mata um boi agigantado.
R - M eu riacho pela seca
Dá cheias descomunais
Na correnteza das águas
Descem grandes animais
Jibóias, surucujubas,
E monstruosos "Jaguais"
N - O Jaguar rende-m e culto
A serpente aos meus pés morre
No que chegar minha ira
Só um poder o socorre
Eu digo ao rio, pare aí!
A água pára e não corre...
R - Você não é Josué
Que mandou o sol parar
E esse parou três dias
Para a guerra se acabar
Nem Moisés que com a vara
Fez o mar também secar.
N - Faço tudo que eu quiser
Minha força não tem limite
Os feitos por mim obrados
Não vejo homem que imite
Eu determino uma coisa
Não há força que a evite!
R - Salomão também fazia
O que queria fazer
Por meio de mágica ou química
Quis segunda vez nascer
M as em vez do nascimento
Conseguiu ele morrer.
N - Salomão facilitou
Confiado na ciência
Encaminhou tudo bem
M as faltou-lhe a paciência
Se não fosse aquele erro
Tinha tido outra existência.
R - Eu necessito saber
onde é seu natural
Porque não sei se o senhor
Tem nascimento legal
De qual nação é que vem
Se procede bem ou mal.
N - Você vem interrogar-me
Eu lhe interrogo também,
Diga para onde vai
E de qual parte é que vem
Se é solteiro, ou casado
Diga que profissão tem?
R Não tenho superior
Sou filho da liberdade
E não conto a minha vida
Pois não há necessidade
Porque não sou foragido
Nem você é autoridade!
N - É preciso advertir-lhe,
Fazer-,lhe observação
M e trate com muito jeito,
Cante com mais atenção!
Veja que não se descuide
E passe o pé pela mão!
R - Eu, para cantar repente,
Já estou muito habilitado:
Conheço algumas matérias,
Sou um pouco adiantado
Tive estudo quatro anos,
Me considero letrado!
N - Sou professor de matérias
Que sábio não as conhece;
A lei que dito no mundo,
O próprio rei obedece
Meus feitos são conhecidos,
A fama se estende e cresce.
R - Você diz que tem ciência,
Dê-m e um a explicação:
Se a Terra faz movimento
De quem é a rotação?
Porque.é que em 12 horas
Há um a transformação?
N - Não é o Sol quem se move,
Este é fixo em seu lugar,
A Terra está sobre os eixos,
Os eixos a fazem rodar,
Que, por essa rotação
Faz a luz do Sol faltar.
R - Descreva o grande mistério
Que entre nós a Terra tem:
De que é formada a chuva?
Em que estado ela vem?
Se é criada aqui perto
Ou noutro lugar além?
N - A água em estado líquido
Por meio de abaixamento
Que há na temperatura,
E pelo resfriamento
Essa água é condensada,
Ajudada pelo vento.
A corrente atmosférica
De um a montanha elevada,
Que ajuda a temperatura,
Forma nuvem condensada.
Do vento movendo as nuvens
É disso a chuva formada,
Que essa chuva, depois
Que toda a Terra ensopar,
Por meio da evaporação
Torna ao espaço voltar,
Reproduzindo, o processo
Que acabei de lhe tratar.
R - O senhor conhece bem
Este país brasileiro?
Ora, respondeu o Negro:
N - Eu conheço o estrangeiro
Desde o córrego mais pequeno
Até o maior ribeiro!
Por exemplo, o Amazonas,
Que extrema com o Pará;
O Pará com o Maranhão,
Piauí com o Ceará,
E assim todos os outros
Se alguém duvida, vá lá!
E se qualquer um daqui;
Pretendendo viajar
Até o Rio de Janeiro
E não querendo ir por mar,
Eu lhe ensino o caminho
Ele vai sem se vexar.
R - Como faz essa viagem?
Onde se encontra o caminho?
Lugar de uma só morada,
Sem haver mais um vizinho
Tanto que, em muitos lugares
Não anda um homem sozinho!
N - Pode qualquer um sair
Do Açu ao Mossoró;
Querendo pode passar
Na cidade Caicó,
Subir pela margem esquerda
Do rio de Seridó
Riachão disse consigo:
- Esse negro é um danado!
Esse saiu do Inferno,
Pelo Demônio mandado,
E para enganar-me veio
Em um negro transformado!
Disse o negro: - Meu amigo,
não queira desconfiar,
Garanto que o senhor
Não ouviu bem eu cantar,
Na altura que eu canto
outro não pode chegar!
R - Vá na altura em quer for!
Riachão lhe respondeu.
Remexa todos os livros
Que o senhor aprendeu
Eu não conheço esse ente
Que cante m ais do que eu!
N - Você ficará sabendo
O peso de um cantador
Quando me ver outra vez
Me trate de professor,
Render-me-á obediência,
Conhecerá meu valor!
R - O senhor diga o seu nome,
Eu quero lhe conhecer,
Pois só assim posso dar-lhe
O valor que merecer,
Em tudo que você diz
A inda não posso crer.
N - Você, sabendo quem sou
Talvez que fique assombrado,
Superior a você
Comigo tem se espantado
Os grandes da sua Terra
Eu tenho subjugado!
R - Eu canto há dezoito anos,
Há vinte toco viola,
Sempre encontro cantador
Que só tem fama e parola
Quando canta meio dia,
Cai nos meus pés, no chão rola.
N - Eu já canto há muitos anos,
Não vou em toda função,
Arranco pontas de touro,
Quebro o furor do leão,
Nunca achei esse duro
Que para mim tenha ação.
R - Garanto que de hoje em diante,
O senhor tem que encontrar
A força superior
Que o obrigue a se calar,
Porque eu boto o cerco,
Quem vai não pode voltar!
N - Manoel, tu és criança,
Só tens mesmo é pabulagem!
Vejo que falar é fôlego,
Porém obrar é coragem
Juro que' de agora em diante
Não contarás mais vantagem!
R - Meu pai chamava-se Antônio,
Seu apelido era Rio;
De uma enxurrada que dava
Cobria todo o baixio
Secava em tempo de inverno
Enchia em tempo de estio.
N - Conheci muito seu pai,
Que vivia de pescar,
Sua mãe era tão pobre,
Que vivia de um tear
Seu padrinho tomou você
E levou-o para criar.
R - Onde mora o senhor,
Que meu avô conheceu?
Que eu nem me lembro mais
Do tempo que ele morreu
E você está parecendo
Muito mais moço que eu!
N - Eu sei do dia e da hora
Que nasceu seu bisavô,
Chamava-se Ana Mendes
A parteira que o pegou
E conheci muito o frade
E o vi quando o batizou.
R - Bote sua maca abaixo
Conte essa história direito,
Da forma que você conta
Eu não fico satisfeito
Como ver-se um objeto
Antes daquilo ser feito?
N - Seu bisavô se chamava
Apolinário Cancão
Era filho de um ferreiro
Que o chamavam Gavião
Sua bisavó Lourença
Filha de Amaro Assunção.
R - Mas que idade tem você,
Que me faz admirar?
Conheceu meu bisavô
Eu não posso acreditar,
Assim destas condições
Faz até desconfiar.
N - Seu bisavô e o avô
Foram por mim conhecidos,
Seu pai, sua mãe, você
Antes de serem nascidos
Já estavam em minha nota
Para serem protegidos.
R - Que proteção tem você
Para proteger alguém?
Sua pessoa e os trajes
Mostram o que você tem
A sua cor e aspecto
Esclarecem muito bem.
N - Eu protejo você tanto,
Que o defendi de morrer
Você se lembra da onça
que um a vez quis lhe comer
Que apareceu um cachorro
E fez a onça correr?
R - Me lembro perfeitamente
Quando a onça m e emboscou
Já ia marcando o salto
Quando um cachorro chegou
A onça correu com medo,
Eu não sei quem me salvou..
.
N - Pois foi este seu criado
Que viu a onça emboscá-lo
Eu chamei por meu cachorro
Para da onça livrá-lo
Se lembra quando você
Ouviu o canto dum galo?
R - Eu me lembro disso tudo
Porque assim foi passado;
Mas que idade tinha eu
Quando esse caso foi dado?
Eu era tão pequenino
Que m eu pai teve cuidado.
N - Você tinha nove anos
Foi caçar um novilhote
Se entreteu com umas flores
Que tinha lá no serrote
A onça foi esperá-lo
Para sangrá-lo no bote.
Riachão disse consigo:
- De onde veio esse ente,
Que de toda minha vida
Conhece perfeitamente?
Este, será que é o Diabo
Que está figurado em gente?
N - O senhor pergunta assim
De que parte venho eu...
Eu venho de onde não vai
Pensamento como o seu
E saí do ideal
Primeiro que apareceu!
R - Agora acabei de crer
Que tu és o inimigo!
Te transformaste em homem,
Para vir cantar comigo,
Mas eu acredito em Deus
Não posso correr perigo!
N - Ainda não, lhe ameacei,
Nem pretendo ameaçá-lo!
Estou pronto a defendê-lo,
Se alguém quiser atacá-lo
Em minha humilde pessoa,
Tem um pequeno vassalo!
R - Não quero saber de ti,
Porque tu és traidor:
Desobedeceste a Deus,
Sendo Ele o Criador!
Fizeste traição a Ele
Quanto mais a um pecador...
N - Riachão, amas a Deus
Sendo mal recompensado!
Deus fez de Paulo um Monarca
De Pedro um simples soldado
Fez um com tanta saúde,
Outro cego e aleijado!
R - Se Deus fez de Paulo um rei,
Porque Paulo merecia
Se fez de Pedro um soldado,
Era o que a Pedro cabia:
Se não fosse necessário,
O grande Deus não fazia!
N - O teu vizinho e parente
Enricou sem trabalhar;
Teu pai trabalhava tanto
E nunca pode enricar
Não se deitava uma noite
Que deixasse de rezar!
R - M eu pai morreu na pobreza,
Foi fiel ao seu Senhor!
Executou toda ordem
Que lhe deu o Criador
E foi um a das ovelhas
Que deu mais gosto ao pastor!
N - Arre lá! Lhe disse o Negro.
Você é caso sem jeito!
Eu com tanta paciência,
Estou lhe ensinando direito
Você vê que está errado,
Faz que não vê o defeito!
R - É muito feliz o homem
Que com tudo se consola!
posso morrer na pobreza,
Me achar pedindo esmola
Deus me dá para passar
Ciência e esta viola!
O negro olhou Riachão
Com os olhos de cão danado,
Riachão gritou: - Jésus,
Homem Deus Sacramentado!
Valha-me a Virgem Maria,
A Mãe do Verbo Encarnado!
o negro, soltando um grito,
Dali desapareceu.
De uma catinga de enxofre
A casa toda se encheu,
Os cães uivaram na rua,
O chão da casa tremeu.
Riachão ficou cismado
Com cantor desconhecido,
Que, quando encontrava um,
Tomava logo sentido
O seu primeiro repente
Era a Deus oferecido.
Essa história que escrevi
Não foi por mim inventada:
Um velho daquela época
Tem ainda decorada.
Minha aqui só são as rimas
Exceto elas, mais nada!
Riachão estava cantando
Na cidade de Açu,
Quando apareceu um negro
Da espécie de urubu,
Tinha a camisa de sola
E as calças de couro cru.
Beiços grossos e virados
Como a sola de um chinelo
Um olho muito encarnado
O outro muito amarelo,
Este chamou Riachão
Para cantar um martelo.
Riachão disse: eu não canto
Com negro desconhecido,
Porque pode ser escravo,
E anda por aqui fugido
Isso é dar cauda a nambu
E entrada a negro enxerido.
Negro - Eu sou livre como o vento
A minha linhagem é nobre,
Eu sou um dos mais ilustres
Que o sol deste mundo cobre
Nasci dentro da grandeza
Não saí de raça pobre.
Riachão - Você nega porque quer
Está conhecido demais,
Você anda aqui fugido
Me diga que tempo faz
Se você não foi cativo,
Obras desmentem sinais.
N - Seja livre ou seja escravo
Eu quero é cantar martelo,
Afine a sua viola
Vamos bater-se em duelo
Só com a minha presença
O senhor está amarelo.
R - Vejo um vulto tão pequeno
Que nem o posso enxergar,
Julgo que nem é preciso
Minha viola afinar
Pela ramagem da árvore
Vê-se o fruto que ela dá.
N - Riachão isto são frases
De homem muito atrasado,
Porque são vistos fenômenos
Que na terra têm se dado
Uma cobra tão pequena
Mata um boi agigantado.
R - M eu riacho pela seca
Dá cheias descomunais
Na correnteza das águas
Descem grandes animais
Jibóias, surucujubas,
E monstruosos "Jaguais"
N - O Jaguar rende-m e culto
A serpente aos meus pés morre
No que chegar minha ira
Só um poder o socorre
Eu digo ao rio, pare aí!
A água pára e não corre...
R - Você não é Josué
Que mandou o sol parar
E esse parou três dias
Para a guerra se acabar
Nem Moisés que com a vara
Fez o mar também secar.
N - Faço tudo que eu quiser
Minha força não tem limite
Os feitos por mim obrados
Não vejo homem que imite
Eu determino uma coisa
Não há força que a evite!
R - Salomão também fazia
O que queria fazer
Por meio de mágica ou química
Quis segunda vez nascer
M as em vez do nascimento
Conseguiu ele morrer.
N - Salomão facilitou
Confiado na ciência
Encaminhou tudo bem
M as faltou-lhe a paciência
Se não fosse aquele erro
Tinha tido outra existência.
R - Eu necessito saber
onde é seu natural
Porque não sei se o senhor
Tem nascimento legal
De qual nação é que vem
Se procede bem ou mal.
N - Você vem interrogar-me
Eu lhe interrogo também,
Diga para onde vai
E de qual parte é que vem
Se é solteiro, ou casado
Diga que profissão tem?
R Não tenho superior
Sou filho da liberdade
E não conto a minha vida
Pois não há necessidade
Porque não sou foragido
Nem você é autoridade!
N - É preciso advertir-lhe,
Fazer-,lhe observação
M e trate com muito jeito,
Cante com mais atenção!
Veja que não se descuide
E passe o pé pela mão!
R - Eu, para cantar repente,
Já estou muito habilitado:
Conheço algumas matérias,
Sou um pouco adiantado
Tive estudo quatro anos,
Me considero letrado!
N - Sou professor de matérias
Que sábio não as conhece;
A lei que dito no mundo,
O próprio rei obedece
Meus feitos são conhecidos,
A fama se estende e cresce.
R - Você diz que tem ciência,
Dê-m e um a explicação:
Se a Terra faz movimento
De quem é a rotação?
Porque.é que em 12 horas
Há um a transformação?
N - Não é o Sol quem se move,
Este é fixo em seu lugar,
A Terra está sobre os eixos,
Os eixos a fazem rodar,
Que, por essa rotação
Faz a luz do Sol faltar.
R - Descreva o grande mistério
Que entre nós a Terra tem:
De que é formada a chuva?
Em que estado ela vem?
Se é criada aqui perto
Ou noutro lugar além?
N - A água em estado líquido
Por meio de abaixamento
Que há na temperatura,
E pelo resfriamento
Essa água é condensada,
Ajudada pelo vento.
A corrente atmosférica
De um a montanha elevada,
Que ajuda a temperatura,
Forma nuvem condensada.
Do vento movendo as nuvens
É disso a chuva formada,
Que essa chuva, depois
Que toda a Terra ensopar,
Por meio da evaporação
Torna ao espaço voltar,
Reproduzindo, o processo
Que acabei de lhe tratar.
R - O senhor conhece bem
Este país brasileiro?
Ora, respondeu o Negro:
N - Eu conheço o estrangeiro
Desde o córrego mais pequeno
Até o maior ribeiro!
Por exemplo, o Amazonas,
Que extrema com o Pará;
O Pará com o Maranhão,
Piauí com o Ceará,
E assim todos os outros
Se alguém duvida, vá lá!
E se qualquer um daqui;
Pretendendo viajar
Até o Rio de Janeiro
E não querendo ir por mar,
Eu lhe ensino o caminho
Ele vai sem se vexar.
R - Como faz essa viagem?
Onde se encontra o caminho?
Lugar de uma só morada,
Sem haver mais um vizinho
Tanto que, em muitos lugares
Não anda um homem sozinho!
N - Pode qualquer um sair
Do Açu ao Mossoró;
Querendo pode passar
Na cidade Caicó,
Subir pela margem esquerda
Do rio de Seridó
Riachão disse consigo:
- Esse negro é um danado!
Esse saiu do Inferno,
Pelo Demônio mandado,
E para enganar-me veio
Em um negro transformado!
Disse o negro: - Meu amigo,
não queira desconfiar,
Garanto que o senhor
Não ouviu bem eu cantar,
Na altura que eu canto
outro não pode chegar!
R - Vá na altura em quer for!
Riachão lhe respondeu.
Remexa todos os livros
Que o senhor aprendeu
Eu não conheço esse ente
Que cante m ais do que eu!
N - Você ficará sabendo
O peso de um cantador
Quando me ver outra vez
Me trate de professor,
Render-me-á obediência,
Conhecerá meu valor!
R - O senhor diga o seu nome,
Eu quero lhe conhecer,
Pois só assim posso dar-lhe
O valor que merecer,
Em tudo que você diz
A inda não posso crer.
N - Você, sabendo quem sou
Talvez que fique assombrado,
Superior a você
Comigo tem se espantado
Os grandes da sua Terra
Eu tenho subjugado!
R - Eu canto há dezoito anos,
Há vinte toco viola,
Sempre encontro cantador
Que só tem fama e parola
Quando canta meio dia,
Cai nos meus pés, no chão rola.
N - Eu já canto há muitos anos,
Não vou em toda função,
Arranco pontas de touro,
Quebro o furor do leão,
Nunca achei esse duro
Que para mim tenha ação.
R - Garanto que de hoje em diante,
O senhor tem que encontrar
A força superior
Que o obrigue a se calar,
Porque eu boto o cerco,
Quem vai não pode voltar!
N - Manoel, tu és criança,
Só tens mesmo é pabulagem!
Vejo que falar é fôlego,
Porém obrar é coragem
Juro que' de agora em diante
Não contarás mais vantagem!
R - Meu pai chamava-se Antônio,
Seu apelido era Rio;
De uma enxurrada que dava
Cobria todo o baixio
Secava em tempo de inverno
Enchia em tempo de estio.
N - Conheci muito seu pai,
Que vivia de pescar,
Sua mãe era tão pobre,
Que vivia de um tear
Seu padrinho tomou você
E levou-o para criar.
R - Onde mora o senhor,
Que meu avô conheceu?
Que eu nem me lembro mais
Do tempo que ele morreu
E você está parecendo
Muito mais moço que eu!
N - Eu sei do dia e da hora
Que nasceu seu bisavô,
Chamava-se Ana Mendes
A parteira que o pegou
E conheci muito o frade
E o vi quando o batizou.
R - Bote sua maca abaixo
Conte essa história direito,
Da forma que você conta
Eu não fico satisfeito
Como ver-se um objeto
Antes daquilo ser feito?
N - Seu bisavô se chamava
Apolinário Cancão
Era filho de um ferreiro
Que o chamavam Gavião
Sua bisavó Lourença
Filha de Amaro Assunção.
R - Mas que idade tem você,
Que me faz admirar?
Conheceu meu bisavô
Eu não posso acreditar,
Assim destas condições
Faz até desconfiar.
N - Seu bisavô e o avô
Foram por mim conhecidos,
Seu pai, sua mãe, você
Antes de serem nascidos
Já estavam em minha nota
Para serem protegidos.
R - Que proteção tem você
Para proteger alguém?
Sua pessoa e os trajes
Mostram o que você tem
A sua cor e aspecto
Esclarecem muito bem.
N - Eu protejo você tanto,
Que o defendi de morrer
Você se lembra da onça
que um a vez quis lhe comer
Que apareceu um cachorro
E fez a onça correr?
R - Me lembro perfeitamente
Quando a onça m e emboscou
Já ia marcando o salto
Quando um cachorro chegou
A onça correu com medo,
Eu não sei quem me salvou..
.
N - Pois foi este seu criado
Que viu a onça emboscá-lo
Eu chamei por meu cachorro
Para da onça livrá-lo
Se lembra quando você
Ouviu o canto dum galo?
R - Eu me lembro disso tudo
Porque assim foi passado;
Mas que idade tinha eu
Quando esse caso foi dado?
Eu era tão pequenino
Que m eu pai teve cuidado.
N - Você tinha nove anos
Foi caçar um novilhote
Se entreteu com umas flores
Que tinha lá no serrote
A onça foi esperá-lo
Para sangrá-lo no bote.
Riachão disse consigo:
- De onde veio esse ente,
Que de toda minha vida
Conhece perfeitamente?
Este, será que é o Diabo
Que está figurado em gente?
N - O senhor pergunta assim
De que parte venho eu...
Eu venho de onde não vai
Pensamento como o seu
E saí do ideal
Primeiro que apareceu!
R - Agora acabei de crer
Que tu és o inimigo!
Te transformaste em homem,
Para vir cantar comigo,
Mas eu acredito em Deus
Não posso correr perigo!
N - Ainda não, lhe ameacei,
Nem pretendo ameaçá-lo!
Estou pronto a defendê-lo,
Se alguém quiser atacá-lo
Em minha humilde pessoa,
Tem um pequeno vassalo!
R - Não quero saber de ti,
Porque tu és traidor:
Desobedeceste a Deus,
Sendo Ele o Criador!
Fizeste traição a Ele
Quanto mais a um pecador...
N - Riachão, amas a Deus
Sendo mal recompensado!
Deus fez de Paulo um Monarca
De Pedro um simples soldado
Fez um com tanta saúde,
Outro cego e aleijado!
R - Se Deus fez de Paulo um rei,
Porque Paulo merecia
Se fez de Pedro um soldado,
Era o que a Pedro cabia:
Se não fosse necessário,
O grande Deus não fazia!
N - O teu vizinho e parente
Enricou sem trabalhar;
Teu pai trabalhava tanto
E nunca pode enricar
Não se deitava uma noite
Que deixasse de rezar!
R - M eu pai morreu na pobreza,
Foi fiel ao seu Senhor!
Executou toda ordem
Que lhe deu o Criador
E foi um a das ovelhas
Que deu mais gosto ao pastor!
N - Arre lá! Lhe disse o Negro.
Você é caso sem jeito!
Eu com tanta paciência,
Estou lhe ensinando direito
Você vê que está errado,
Faz que não vê o defeito!
R - É muito feliz o homem
Que com tudo se consola!
posso morrer na pobreza,
Me achar pedindo esmola
Deus me dá para passar
Ciência e esta viola!
O negro olhou Riachão
Com os olhos de cão danado,
Riachão gritou: - Jésus,
Homem Deus Sacramentado!
Valha-me a Virgem Maria,
A Mãe do Verbo Encarnado!
o negro, soltando um grito,
Dali desapareceu.
De uma catinga de enxofre
A casa toda se encheu,
Os cães uivaram na rua,
O chão da casa tremeu.
Riachão ficou cismado
Com cantor desconhecido,
Que, quando encontrava um,
Tomava logo sentido
O seu primeiro repente
Era a Deus oferecido.
Essa história que escrevi
Não foi por mim inventada:
Um velho daquela época
Tem ainda decorada.
Minha aqui só são as rimas
Exceto elas, mais nada!
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