Texto e fotos de Jair Moura
28 de fev 1970
Começando a sua vida de jogador de batuque nos primórdios dêste século, Tibúrcio José de Santana, conhecido nos meios do “jôgo de vadiação” como Tiburcinho, teve como mestre de batuque o velho Bernardo José de Cosme, figura respeitada lá em Jaguaripe pelo seu espírito vivaz, e lutador dos melhores daquela época. Sempre teve as apresentações do jogo subsidiário da capoeira nos festejos de Nossa Senhor D’Ajuda ou nas tradicionais romarias.
Segundo o Tiburcinho, os grandes batuqueiros dos idos de 1900, eram Lúcio Grande, de Nazare das Farinhas, Manuel João, Pedro Gustavo de Brito, Liberato, Gregório Tapera, Pedro Correia, Francisco Chiquetada, Joaquim Grosso, Zeca de Sinhá Purcina, Leocádia Silva de Maria Arcanja, Euclides Lemos (Caco), Teotônio, Antônio Frederico, Eusébio de Tapuiquara, este último escravo da família Abdon do município de Jaguaripe.
Afirma Tiburcinho, que o batuque era um jôgo, cuja competição era formada por dois contendores tendo como ponto fundamental de defesa os órgãos sexuais, devido as violências dos golpes destinados ao desequilíbrio de cada um dos lutadores, cujos ataques eram desferidos coxa contra coxa acrescentando ao golpe uma “rapa” ou “banda” além do “baú” que é um golpe de desequilíbrio. Tôda a atenção para a luta era tomada em posição de “banda solta” ou seja forma de defesa que ambos os batuqueiros ficam de frente, equilibrados numa única perna em posição primitiva.
BATUQUE
Apesar de sua idade ultrapassar os oitenta e seis anos*, Tibúrcio permanece relativamente com a mesma disposição orgánica, dos velhos tempos, ressentindo apenas, algumas vêzes, a falta de memória. Sempre êle esquece o lugar onde guardou as coisas. Contudo ao relembrar sua vida de ex-batuqueiro, a mente torna-se clara, e entre sorrisos, descreve os fatos como se estivesse vivendo-os durante a narração. Para êle o batuque foi criminosamente esquecido por todos. Apesar de ter sido uma luta condenada pela polícia, devido as conseqüências, quase sempre terminava em conflitos, com intervenções das autoridades, trata-se de um aspeto de nossos costumes populares, e não se justifica o ostracismo em que hoje se encontra. As competições geralmente realizadas em Jaguaripe e Nazaré tinham como marcação do rítmo o pandeiro, “tambaque” (tambor de guerra), e cantigas populares entre elas esta a mais tradicional, cujas estrofes assim eram entoadas: * 1970-86=1884. Talvéz Jair Moura colocou ano 1878 para o livreto de Dança de Guerra em 1968, mas em 1970 pediu M Tiburcinho especificar e ele deu seu idade de 86.
Fonte [velhosmestres.com]
Entrevista feita por Mestre de Capoeira e escritor Jair Moura
UM DIA COMO HOJE: Tiburzinho fala do batuque num jornal (28/02/1970)
O Jornal A Tarde, de 28 de fevereiro de 1970, sob o título “Tiburcinho e Batuque, de autoria de Jair Moura”, Tiburcinho confirma:
O Batuque é um jogo cuja competição era formada por dois contendores, tendo o ponto fundamental de defesa os órgãos sexuais, devido à violência dos golpes destinado ao desequilíbrio de cada um dos lutadores, através de golpes coxa contra coxa, acrescentado à ‘rapa’ ou ‘banda’ além d’do baú’ que é um golpe de desequilibrio […].
Tiburcinho ainda cita os nomes de alguns dos mestres batuqueiros de Jaguaripe: Lucio Grande de Nazaré das Farinhas, Manuel João, Pedro Gustavo de Britto, Liberato, Gregorio Tapera, Pedro Correia, Francisco Chiquetada, Joaquim Grosso, Zéca de Sinhá, Purcina, Leocádia Silva de Maria Arcanja, Euclides Lemos (Caco), Teotonio, Antonio Frederico, Eusébio de Tapiquará, este último escravo da família Abdon” E relembra algumas cantigas populares, marcadas ao som do pandeiro “tampanque” (tambor de guerra), em que seus refrões diziam:
Ê loandê!
Tiririca ê faca de cotá,
Não me cotá mulequinho de sinhá
Mata m’embora
Cada um tira o seu
Vais embora!
Tiburcinho afirma que o Batuque foi criminosamente esquecido por todos. Apesar de ter sido condenado pela polícia, devido ás consequências que quease sempre terminavam em conflitos, trata-se de um aspecto de nossos costumes populares, e “não se justifica o ostracismo em que hoje se encontra”
Fonte: Livro Mestres e Capoeiras Famosos da Bahia, Pedro Abib, 2013
