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quarta-feira, 8 de maio de 2024

CENTENÁRIO DE MESTRE CAIÇARA - 1924 - 2024

Aos 08 de maio de 1924, nascia do ventre de Adélia Maria da Conceição, na cidade de Cachoeira de São Felix, Estado da Bahia, Antônio Conceição Moraes, o Mestre Caiçara!!! Para celebrar sua vida e seu legado para o mundo da Capoeira, vamos buscar trechos de um depoimento do Mestre registrado em 1987 na 1ª Jornada Cultural de Capoeira, realizado por Mestre Macaco e Grupo Ginga na cidade de Ouro Preto/MG.  Em sua fala o Mestre revela sua visão sobre a Capoeira, suas origens, seu Mestre e os Mestres que alcançou e teve como referência, a forma como aprendeu a Capoeira, suas preocupações com a expansão dela e os fundamentos que as futuras gerações deveriam se atentar:  


"Bom, senhores espectadores, meu cordial boa tarde em primeiro lugar. Em segundo lugar, eu quero dizer sobre o fundamento da Capoeira. A Capoeira autêntica e histórica do Africo Brasileiro, ela tem principio por que ela surgiu em primeiro lugar como uma dança.Daí que surgiu o malicioso que teve a oportunidade de observar que o corpo humano tem de ter agilidade para saber se defender fisicamente de um cacete, ou de uma faca, ou de um revólver Ou de dois ou três elementos, dependendo o fator principal que é a raça. A capoeira é dança de dançarino, é luta dos lutadores. A capoeira é Ciência, é destreza, é malícia, é agilidade, é falsidade. Ela não é briga, nem é luta. Ela é uma dança maliciosa de duas partes históricas. É a Capoeira e o Candomblé. Digo eu, não como mais sábio de que nenhum, querendo se fazer acima de ninguém. Mas foi a instrução que eu tomei do meu mestre. Meu mestre chamava-se Antônio Rufinho dos Santos, conhecido por Aberrê. Era do meio de 12 homens, Siri de Mangue, Canário Pardo, Paulo Barroquinha, o finado Bimba, o finado Pastinha, o finado Totonho de Maré, os mestres antigos.

Não é querer desfazer, mas a juventude ainda está completamente atrasada sobre o conhecimento do que é nosso. A Capoeira foi criada pelos africanos, vindo do Brasil, ela é brasileira. A primeira cidade que foi plantada a Capoeira foi Santo Amaro da Purificação. Hoje em dia, não tem quem divulgue ela por causa de quê? Falta de apoio dos meios competentes." (...) "Ela tem que ter lugar para se plantar para poder saber distribuir ela. A Capoeira é uma coisa fina, a Capoeira é uma cultura. Ela tem Meio de respeito, meio de confiança. Agora julga ela de duas maneiras: uma cultura e como uma defesa pessoal. De acordo com os toques, o canto. É o toque da Capoeira, o principal é o Angola, o Angolinha, o São Bento Grande, o São Bento pequeno, a Santa Maria, a Cavalaria, a Iuna. E são as brigas de rua, que eu não vou querer desafiar a pessoa nenhuma, nem querer maltratar ninguém, porque eu mais aprendi.Hoje em dia eu vejo mais mestres que alunos em todo o território nacional. E o meu mestre me disse... (...) Quando ele, e outro qualquer, daqueles antigos mestres, sentia que você tinha a força de vontade, ele puxava para procurar lhe educar, e lidava com o conselho. (...) Quando ele me sentiu, dentro de 36 discípulos, ele disse: Quando eu morrer, eu quero ver qual é o que vai ficar para substuir meu nome. Quando ele sentiu, me chamava dentro da casa dele particular, e me ensinou, depois fez teste com os próprios colegas, os próprios alunos. Quando ele sentiu que eu tinha a força de vontade, ele disse: Tome, zele, conserve e vai servir para você amanhã.A Capoeira só é uma só, é Angola. Agora, de acordo com os toques ela modifica.Mas a Capoeira é uma só". (Mestre Caiçara, Ouro Preto/MG. 1987)


Não tive a oportunidade de conhecer o Mestre Caiçara em vida, mas ouvi muitas histórias e estórias conversando com Mestres que conviveram com ele, como Mestre Jogo de Dentro, no período em que fui seu aluno, Mestre Marcelo Angola, nas oportunidades em que esteve conosco na Escola Resistência a convite de meu Mestre Topete. Mestre Marcelo fez parte da turma que realizava apresentações com o Mestre a convite da Bahiatursa e tem histórias incríveis pra contar sobre suas vivências com o Mestre. Outra pessoa que me presenteou com boas histórias sobre a vida dele foi o saudoso Mestre Frede Abreu quando de sua vinda à Campinas para o Seminário da Capoeira nas Escolas em 2004. Recordo de nossas conversas no intervalo do almoço quando este cordialmente contou muitas histórias engraçadas sobre as disputas entre Mestre Caiçara e Mestre Canjiquinha. No ano seguinte, em 2005, tive a oportunidade de conhecer uma de suas netas carnais que infelizmente não recordo o nome, em Salvador/BA numa roda na Academia de Mestre Raimundo Dias, à epoca fiquei surpreso conversando com ela ao saber que seu avô tinha tido mais de trinta filhos e incontável quantidade de netos e bisnetos. Essas pessoas povoaram meu imaginário com referências sobre a vida daquela pessoa que fora dona de uma das vozes que soprou muitos enigmas da Capoeira em meus ouvidos, através da fitinha k-7 que eu passava dias a fio escutando e tentando aprender suas ladainhas e os ritmos de berimbau que ele nos presenteou em seu LP gravado em 1969. Propositalmente, não reproduzo todas as histórias que ouvi aqui, mas incentivo as pessoas a procurarem essas e outras pessoas para conhecerem mais sobre Mestre Caiçara e outros Mestres e Mestras da nossa cultura, estamos vivendo uma era em que tudo parece que está aqui na palma da nossa mão, na tela do celular, mas acredite, nem tudo cabe aqui. A vida é muito mais profunda e cheia de mistérios, precisamos regressar aos gestos simples, dar um bom dia, um boa tarde, despretensioso, puxar conversa com alguém ainda desconhecido...A Capoeira é a arte do encontro. Bora se encontrar! 

Viva Mestre Caiçara!!!

Contramestre Léo Lopes

(Escola de Capoeira Angola Resistência)

08 de maio de 2024


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