Seu mestre, „era mandingueiro“, seguia todos esses preceitos, era um capoeira preparado, entendia de oração e de feitiço, usava patuá, sem contudo, freqüentar candomblé, e por isso „ele tinha esse poder de brigar e desaparecer“ e se transformar num animal ou num objeto qualquer quando a polícia aparecia para prender ele. Tanto assim que, segundo Gigante, o delegado quando mandava prendê-lo dizia para os soldados trazerem tudo que encontrassem na casa dele, pois tinha certeza que um dos móveis era ele. Não obstante, Cobrinha não lhe ensinou nada disso porque, como Gigante explicou, se ele ensinasse suas mandingas para outra pessoa, ele perdia a força e enfraquecia. Mestre Gigante, que aprendeu capoeira com Cobrinha Verde, nos contou também que seu mestre „[...] era um cara que fazia desordem e quando a polícia vinha para prender ele, ele sumia, ele se transformava num porco, num cachorro“. Gigante chegou a se emocionar ao relembrar as histórias de Cobrinha, um homem simples que aprendeu capoeira no „meio de cachaça“, como ele mesmo contava. Gigante sorria se recordando que aquele que lhe ensinou os primeiros passos da capoeiragem em baixo de um pé do cajueiro no Chame-chame tinha a capacidade de burlar totalmente a polícia, fazendo-a de idiota em nome da sua liberdade. E com um olhar de orgulho e satisfação nos disse que era „bonito“ saber que seu mestre disfarçado de animal „... tava ali vendo a polícia e a polícia não tava vendo ele“.
Entrevista com M Gigante, 2002, em Dias, 2004
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