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sexta-feira, 5 de abril de 2019

Vicente Joaquim Ferreira Pastinha "Mestre Pastinha"


 (Salvador, 5 de abril de 1889 — Salvador, 13 de novembro de 1981), 
Este foi o início de mestre Pastinha na capoeira. Vicente Ferreira Pastinha nasceu em cinco de abril de 1889. Fruto da união entre um espanhol, José Señor Pastinha e de uma baiana, Eugênia Maria de Carvalho, nasceu na Rua do Tijolo em Salvador, Bahia.
Depois que o menino conheceu o velho Benedito, passou a frequentar a sua casa todos os dias, treinando e aprendendo as mandingas dos escravos, até que certa vez se encontrou com seu rival mas desta vez foi diferente. Pastinha acabou levando a melhor deixando o menino no chão e sem entender nada. Dizem os relatos que acabaram tornando-se amigos depois.
Durante esse período, o menino pastinha também frequenta o Liceu de Artes e Ofício, onde aprende entre outras coisas a arte da pintura. Em 1902 Pastinha entra para e escola de aprendizes marinheiros, onde passaria oito anos de sua vida. Lá ele ensina a arte da Capoeira aos seus colegas e aprende também a arte da esgrima e a tocar violão. Em 1910, deu baixa na marinha, com 21 anos, resolvido a se dedicar à pintura e ao ensino da capoeira (às escondidas porque a capoeira ainda era proibida pelo código penal), neste período começa a ensinar o seu primeiro aluno: “Raimundo Aberrê”, que conforme mestre Pastinha ia todos os dias à sua casa aprender a capoeira. De 1913 a 1934, Mestre Pastinha se afasta da capoeira devido à forte repressão da época que mantinha a sua prática na ilegalidade. Nesse tempo, mestre Pastinha que sempre desejou viver da sua arte, teve que trabalhar como, pintor, pedreiro, entregador de jornais e até tomou conta de casa de jogos. Este último relatado por ele próprio: 
“Passei a tomar conta de casa de jogo. Para manter a ordem. Mas mesmo sendo capoeirista eu não descuidava de um facãozinho de doze polegadas e de dois cortes que trazia comigo. Jogador profissional daquele tempo andava sempre armado. Assim quem estava sem arma nenhuma no meio deles bancava o besta. Vi muita arruaça, algum sangue, mas não gosto de contar causos de briga minha.”

A primeira academia

Em 1941 Mestre Pastinha é convidado pelo seu antigo aluno Aberrê a assisti-lo numa roda no bairro da Gengibirra, onde segundo o mestre, era um ponto de encontro dos maiores mestres de capoeira da Bahia. “Lá só havia mestre, não tinha alunos” – dizia Pastinha. Aberrê disse que perguntaram quem tinha sido seu mestre e ele dizendo o nome de Pastinha mandaram chamá-lo ao qual Aberrê imediatamente o fez. Ao chegar à roda, Pastinha foi apresentado para um mestre conhecido como “Amorzinho”, um guarda civil que tomava conta da roda e imediatamente entregou o berimbau e a responsabilidade para o mestre.  Estavam lançadas as sementes do que seria a primeira escola de Capoeira Angola. Foi fundado então o CECA, Centro Esportivo de Capoeira Angola, nome dado pelo próprio mestre, localizado no Largo do Cruzeiro de São Francisco.  Após a morte de Amorzinho, em 1943, o centro foi abandonado por todos os mestres, mas mesmo assim Pastinha continuou.
Em fevereiro de 1944 há uma reorganização e em 23 de março do mesmo ano vão para o Centro Operário da Bahia. Em 1949, num domingo Pastinha foi convidado por dois camaradas para ver um terreno na fábrica de sabonetes Sicool no Bigode, onde recebeu o apoio e auxilio dos moradores. O centro ali se instalou e foram feitas as primeiras camisas em preto e amarelo, cores inspiradas no Clube Atlético Ypiranga, clube muito querido pelo mestre e pelas classes sociais mais populares de Salvador.  Uma das curiosidades dessa época é que Mestre Pastinha, avaliando cada um dos seus alunos, fazia um desenho na camisa, conforme os seus movimentos mais característicos.

Enfim o reconhecimento

Finalmente em 1° de outubro de 1952 o CECA foi oficializado. Veja o artigo  original abaixo:

“O Centro Esportivo de Capoeira Angola, fundado a 1° de Outubro de 1952, com sede na cidade de Salvador, Estado da Bahia, é constituído de número limitado de sócios, tem a finalidade de ensinar, difundir e desenvolver teórica e praticamente a capoeira de estilo genuinamente “Angola”, que nos foi legada pelos primitivos africanos aportados aqui na Bahia de Todos os Santos.”

Em maio de 1955, o CECA muda de endereço e vai para o Largo do Pelourinho n° 19, onde permaneceu por 16 anos. Durante esse tempo Mestre Pastinha ficou muito conhecido chegando a ser entrevistado por jornais e revistas importantes da época. Sua academia recebia visitas ilustres como, Jorge Amado, o ilustrador Carybé, o filósofo Jean Paulo Sartre, o ator Jean Paul Belmondo, além de turistas de todo o Brasil.


Em cinco de julho de 1957, Mestre Pastinha apresenta a capoeira angola com seus alunos no festival Bahiarte, na Lagoa do Abaeté onde ocorre o seu primeiro encontro com Mestre Bimba. Os dois demonstraram passividade e respeito um pelo outro, deixando transparecer que a rivalidade entre os angoleiros e regionais, era criada pelos alunos e não pelos Mestres. O CECA ainda foi apresentado em vários outros estados, como, Pernambuco, Minas-Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro.


Em 1964 o Mestre publica o seu livro intitulado “Capoeira Angola”, onde o escritor Jorge Amado teve o prazer de escrever:


O mestre e Jorge Amado

“... mestre da Capoeira de Angola e da cordialidade baiana, ser de alta civilização, homem do povo com toda a sua picardia, é um dos seus ilustres, um dos seus abas, de seus chefes. É o primeiro em sua arte. Senhor da agilidade e da coragem, da lealdade e da convivência fraternal. Em sua escola no pelourinho, Mestre Pastinha constrói cultura brasileira, da mais real e da melhor...” 


Além do livro, o mestre gravou também um disco com cinco faixas. O disco intitulado “Pastinha Eternamente”, conta com depoimentos na voz do próprio mestre e músicas de capoeira, cantadas por Mestre Traíra. Este disco é simplesmente uma raridade e está disponível para download na internet. No final do post disponibilizarei o link para o download. 


Em abril de 1966, integrou a delegação brasileira no 1° Festival de Artes Negras, no Senegal, Dakar na África, onde recebe várias homenagens e confirma que na África não existe qualquer coisa que se pareça com a nossa capoeira. Com todo esse destaque Mestre Pastinha começa a receber o apoio de várias instituições governamentais até que em 1971 o destino (ou o sistema) lhe pregaria uma grande peça.


O golpe, a ingratidão,  o descaso

Em 1971 aos oitenta e dois anos de idade, Pastinha já quase cego por causa de uma catarata, é obrigado pela prefeitura a se retirar do casarão, que entraria em reformas, com a promessa de que assim que estivesse pronto poderia voltar. E voltou?

Mestre Pastinha teve então que se mudar. Foi morar na Rua Alfredo Brito n° 14 no Pelourinho, em um quarto escuro, úmido e sem janelas. Único lugar que dava para pagar com o mísero salário que recebia da prefeitura, já que não podia contar mais com o dinheiro das aulas. Ainda na mudança, foram perdidos muitos móveis, quadros que o mestre pintava e fotografias, que juntos hoje, constituiriam um grande acervo cultural da nossa história.

Para piorar o prédio foi doado para o Patrimônio Histórico da Fundação do Pelourinho que posteriormente o vendeu para o SENAC que transformou o prédio em um restaurante. 

Este foi um dos maiores absurdos praticados contra a nossa cultura. Mestre Pastinha foi usado, enganado e abandonado.


Tristeza

Após a mudança e a perda de sua academia, Pastinha entra em uma profunda depressão e em 1979 com 90 anos é vítima de um derrame cerebral, que o levou a ficar internado por um ano em um hospital público. Após esse período foi enviado para o abrigo para idosos Dom Pedro II, onde permaneceu até a sua morte. Mestre Pastinha morreu cego, quase paralítico e abandonado.

  

No dia 13 de novembro de 1981, aos 92 anos, o Brasil perdia um dos seus maiores mestres. Não só o mestre da capoeira angola, mas o mestre da filosofia popular. O menino fraco e magrinho que conquistou o respeito e admiração do mais forte.


A estrela ainda brilha

Mestre Pastinha foi um dos maiores ícones da cultura do Brasil. Dedicou sua vida inteira em favor da nossa cultura, ajudou a tirar a capoeira da ilegalidade e a colocá-la no seu devido lugar como prática esportiva e cultural, preservou e divulgou a nossa arte até fora do país, ensinou jovens e adultos a enxergar a vida de uma forma simples, mas nobre. Mestre Pastinha foi uma estrela que veio para a terra em forma de homem, para nos ensinar a filosofia da simplicidade, mas teve que voltar ao céu, pois o seu brilho já não cabia mais aqui em um lugar tão pequeno. Um homem que transformou e formou crianças em grandes adultos e fez os mais velhos brincarem como crianças, literalmente de pernas pro ar.


Os frutos

Os mais antigos discípulos do mestre em atividade são: Mestre João Pequeno, que reabriu o CECA um ano depois da morte de Pastinha, no Forte de Santo Antônio do Carmo e Mestre João Grande, que reside em Nova York desde 1990, onde ensina capoeira para pessoas do mundo todo.

Hoje a memória de Mestre Pastinha continua viva nas rodas de capoeira que se espalharam pelos quatro cantos do mundo. E em cada uma dessas rodas, onde são entoadas as ladainhas da Capoeira Angola, Mestre Pastinha está lá.
Fonte:
https://capoeiraexports.blogspot.com

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