NELSON MANDELA
ESTÓRIAS E SEUS MANUSCRITO
Durante
a década de 1950 e início de 1960, Nelson Mandela era frequentemente enviado a
celas de delegacias de polícia, celas judiciais e celas de penitenciárias por
curtos períodos de tempo, pois seu trabalho político fez dele um alvo para o
regime do apartheid. Após ser banido do Congresso Nacional Africano em 1960,
ele passou à clandestinidade em 1961 e tornou-se líder do Umkhonto we Sizwe
(MK), o braço armado do Congresso. Em 1962, ele foi
capturado e condenado a cinco anos de prisão por deixar o país ilegalmente e
incitar uma greve. Em 1963, ele foi julgado com outros líderes do MK no
Julgamento de Rivonia, sendo por fim condenado à prisão perpétua por sabotagem.
Mandela foi finalmente libertado da prisão em 1990, após mais de 27 anos de
prisão ininterrupta. Dezoito desses anos foram passados na Ilha Robben.
“...
Tirávamos nossa força e nosso sustento de saber que éramos parte de uma
humanidade maior do que os nossos carcereiros poderiam reivindicar.”
Não
há entrada para o levante de 16 de junho de 1976 em Soweto. Nelson Mandela e
seus companheiros só souberam disso muito mais tarde, quando novos prisioneiros
políticos chegaram à Ilha Robben. Nos primeiros anos na ilha, Mandela e seus
colegas prisioneiros não podiam ler jornais e ouvir rádio. Nelson Mandela
registra a visita da mídia à Ilha Robben em 1977. O regime do apartheid
organizou a visita de jornalistas para dissipar rumores sobre as condições
adversas na Ilha. Em seus primeiros anos de prisão, Nelson Mandela e seus
companheiros foram proibidos de ter relógios. Inicialmente, ele fez um
calendário na parede de sua cela. Mais tarde, ele recebeu autorização para
pedir um calendário de mesa por ano para a Secretaria de Turismo sul-africana. Ele
manteve uma série de calendários de mesa na penitenciária da Ilha Robben, onde
esteve preso de 13 de junho de 1964 a 31 de março de 1982, na penitenciária
Pollsmoor, onde ficou até 12 de agosto de 1988 e na penitenciária Victor
Verster, de sua transferência até sua libertação em 11 de fevereiro de 1990.Ele
continuou registrando informações nesses calendários enquanto esteve no
hospital, em 1988 – primeiro no Tygerberg Hospital e depois em Constantiaberg
MediClinic – em tratamento contra a tuberculose. Esses calendários de mesa eram
calendários de turismo sul-africanos com fotografias de paisagens e as palavras
“Land of Golden Sunshine“ (terra da luz do sol dourada).Juntamente com seus
cadernos, os calendários de mesa são os registros mais diretos de seus
pensamentos particulares e suas experiências diárias. Ele não fazia anotações
todos os dias. Na verdade, havia algumas semanas em que não fazia anotação
alguma. As necessidades básicas do mundo exterior eram consideradas, na
verdade, luxos preciosos na prisão. Ter leite para o chá, por exemplo, era
considerado um acontecimento. Assim também era com as visitas e as cartas. E a
simples palavra ”inspeção" trazia uma grande ameaça. Esta inscrição
aparece na primeira página do pequeno diário preto de 1990: “Querido Nelson,
com nosso amor e votos de felicidade. Radhi e 'JN' para lembrar o primeiro
encontro de janeiro de 1990 depois de muitos, muitos anos!!!”. Além de um
registro em 1º de janeiro sobre a visita de Singh na penitenciária Victor
Verster, ele registrou uma outra entrada. Em 13 de janeiro, fez sua última
entrada no diário: encheu uma página com uma viva descrição sobre um grupo de
patos que entrara na casa em que viveu por pouco mais de um ano.pesada censura
sobre a correspondência na prisão significava que, se um prisioneiro quisesse
comunicar algo de natureza sensível a qualquer pessoa de fora da prisão, ele
precisaria contrabandear a correspondência para fora. Em mais de uma ocasião,
Mandela e seu companheiro, Ahmed Kathrada, contrabandearam cartas,
especialmente para seus advogados, para reclamar sobre as condições na prisão. Por
exemplo, em janeiro de 1977, Mandela escreveu, em letra minúscula, uma longa
carta para os advogados em Durban instruindo-os a tomar medidas contra as
autoridades prisionais por uma lista de casos de abuso de autoridade. A carta
foi dirigida a uma firma de advocacia chamada Seedat Pillay and Co. Em outubro
de 2010, um dos advogados dessa firma, que se tornou juiz da Alta Corte da
África do Sul, o juiz Thumba Pillay, doou ao Centro da Memória Nelson Mandela
essa carta, bem como uma série de documentos relacionados.
“A
prisão é por si só uma tremenda educação na necessidade de paciência e
perseverança. Trata-se, acima de tudo, de um teste de compromisso...”
Após
a condenação de Nelson Mandela em 7 de novembro de 1962, o Tribunal de
Magistrados de Pretória emitiu um mandado condenando-o à prisão por cinco anos.Ele
havia sido condenado e sentenciado naquele dia a três anos por uma acusação de
“incitação a transgressão de leis” (greve) e dois anos por deixar a África do
Sul sem passaporte. Foi estipulado que as duas sentenças seriam executadas
consecutivamente. Um segundo mandado de detenção foi emitido pela divisão
provincial de Transvaal do Supremo Tribunal da África do Sul em 12 de junho de
1964. No mesmo dia o juiz proferiu uma sentença de prisão perpétua para Mandela
e seus colegas, que foram condenados por quatro acusações de sabotagem no
Julgamento de Rivonia. As duas primeiras acusações foram por violação da Seção
21(1) da General Laws Amendment Act (Lei de sabotagem) n º 76, de 1962. A terceira
foi por violação da Seção 11(a), junto com as Seções 1 e 12 da Lei n º 44 de
1950; e a quarta foi por violação da Seção 3(1) (6), junto com a Seção 2 da Lei
n º 8 de 1953 (conforme alterado).Os dois mandados emoldurados foram
apresentados ao Sr. Mandela em 11 de fevereiro de 1995 – no quinto aniversário
de sua libertação da prisão – pelo então Ministro dos Serviços Correcionais,
Sipho Mzimela, em nome do departamento. Nelson Mandela não hesita em dizer que
conseguiu o que conseguiu como parte de uma “cooperativa”, e que seus
companheiros do Congresso Nacional Africano e, em especial, aqueles que estavam
na prisão, faziam parte dessa cooperativa. Sempre que possível, Mandela exalta
seus companheiros, bem como os de outros quadrantes políticos que sofreram com
ele na prisão. Neste extrato, na continuação de sua autobiografia, ele lembra
de seus companheiros de prisão. Lembra de que não disse a eles que estava
iniciando um diálogo com o regime do apartheid até já estar em negociação. Mas
foi por uma razão muito boa. Ele também explica que a negociação não era nada
de novo. Enquanto Nelson Mandela e seus companheiros estavam presos na Ilha
Robben, na África do Sul, os esforços na campanha para sua libertação só
aumentaram. Uma vez que os prisioneiros foram privados de jornais na maior
parte do tempo na prisão, os ativistas não esperavam que eles soubessem sobre
seus esforços para divulgar a situação. Neste trecho do manuscrito
autobiográfico inédito escrito na penitenciária, fica claro que Mandela não só
sabia desses esforços, mas tirava sua força deles, apesar da censura rigorosa
de cartas e visitas. Escrever sobre a questão deu a ele a oportunidade de
expressar seu otimismo em relação a sua futura liberdade e sucesso da luta
contra o apartheid.
“...
nenhuma parede da prisão, nenhum cão de guarda nem mesmo os mares frios, que
são como um fosso mortal em volta da prisão da Ilha Robben, nada conseguiria
frustrar os desejos de toda a humanidade...”
Em
uma carta à filha Zenani pelo seu 12º aniversário, em 1971, Nelson Mandela
lembrou de seu nascimento depois que a esposa havia sido presa por 15 dias.
Como na maioria das cartas a seus filhos, Mandela tenta ser um pai a longa
distância.Winnie Mandela estava grávida de sua filha mais velha quando foi
presa por participar de um protesto contra as leis de passe. “Você entende que
quase nasceu na prisão?”, escreve ele. A carta lhe revela como ela tinha apenas
25 meses de idade quando ele passou à clandestinidade e ambos não puderam mais
viver juntos novamente.Ele descreve uma visita secreta de Zenani na época da
clandestinidade: “Eu a peguei em meus braços e por cerca de 10 minutos nos
abraçamos, nos beijamos e conversamos. De repente você parecia ter se lembrado
de algo. Você me deixou de lado e começou a vasculhar o quarto. Em um canto,
encontrou o resto de minhas roupas. Depois de juntá-las, você as deu a mim e
pediu-me para ir para casa. Você segurou minha mão por algum tempo, puxando
desesperadamente e me implorando para voltar.”Talvez, o momento mais
angustiante para Nelson Mandela na prisão tenha sido quando sua esposa Winnie
foi detida e presa por mais de 17 meses. De maio de 1969 a setembro de 1970,
ela foi tirada de suas vidas e não havia nada que ele pudesse fazer para
ajudá-la ou ajudar seus filhos deixados para trás. À época, suas filhas Zeni e
Zindzi tinham nove e 10 anos, respectivamente, e ele escreveu para elas da Ilha
Robben a fim de confortá-las. Ele sabia que possivelmente a carta jamais as
alcançaria. Felizmente, Mandela guardou uma cópia em um dos cadernos que usava
para escrever as cartas que enviava. Esses cadernos foram confiscados por
guardas da prisão quando ele ainda estava na Ilha Robben, mas foram devolvidos
mais de 15 anos depois de sua libertação por um ex-policial, Donald Card, que
os manteve em sua casa durante anos. Na década de 1970, enquanto cumpriam pena
de prisão perpétua em Robben Island, dois colegas de Nelson Mandela tiveram a
ideia de que ele deveria secretamente escrever sua autobiografia para ser
publicada em seu aniversário de 60 anos, em 1978.Ele começou a redigir e enviou
rascunhos para Walter Sisulu e Ahmed Kathrada comentarem. Após cada rascunho
ter sido corrigido e aprovado, Mac Maharaj e Laloo Chiba transcreviam-no com
uma caligrafia minúscula. Ao final, 600 páginas tornaram-se aproximadamente 60,
que foram transportadas dentro de um arquivo de estudo de Mac Maharaj, quando
ele foi solto, em 1976.Na ocasião, o manuscrito não foi publicado em 1978, como
esperado, mas Mandela o utilizou como a base para sua autobiografia de 1994,
“Longa Caminhada Até a Liberdade”.Apenas algumas páginas do manuscrito original
sobreviveram, estando alojadas no Arquivo Nacional sul-africano, em Pretória. O
Nelson Mandela Centre of Memory tem as versões digitadas por Sue Rabkin.
“Criamos
uma linha de montagem para processar o manuscrito...”
Um
ano após sua libertação, em 1990, Mandela começou a trabalhar com o jornalista
americano Richard Stengel no que é agora o livro Longo Caminho para a Liberdade
(1994). O trabalho se baseou no manuscrito da prisão e em uma série de
entrevistas. No livro, Mandela declara:
“Criamos
uma linha de montagem para processar o manuscrito. Todos os dias eu passava o
que havia escrito a Kathy, que revisava e lia para Walter. Kathy, então,
escrevia seus comentários nas margens. Walter e Kathy nunca hesitaram em
criticar-me, e eu ouvia suas sugestões, muitas vezes incorporando suas
alterações. Esse manuscrito marcado foi então dado a Laloo Chiba, que passou a
noite seguinte transferindo o que eu havia escrito para sua taquigrafia quase
microscópica, reduzindo 10 páginas a um pedaço pequeno de papel. Seria trabalho
do Mac contrabandear o manuscrito para o mundo lá fora.” Depois de Mandela
fazer as correções, as páginas eram dadas a companheiros de prisão, Isu “Laloo”
Chiba e Mac Maharaj, para serem transcritas em letra minúscula. O manuscrito
foi então dividido em recipientes de cacau e enterrado no jardim da seção B, na
Ilha Robben, utilizando ferramentas de escavação feitas por Jeff Masemola. Sua
posterior descoberta por agentes penitenciários durante a construção de um
muro, fez com que Mandela, Sisulu e Kathrada, cuja letra estava no original,
perdessem seus privilégios de estudo durante quatro anos. Quando Nelson Mandela
completou 70 anos, e ainda estava preso, a campanha para sua libertação tinha
atingido praticamente todos os cantos do mundo.Foram usadas todas as mídias
para forçar, coagir e incentivar toda e qualquer pessoa para ajudar a
libertá-lo. De estudantes e frequentadores de concertos a políticos e
banqueiros, a maioria das pessoas foi tocada pelo “Movimento Libertem Mandela”.
Um dos esforços foi uma série de 10 cartazes do artista Mickey Patel, doados
para o escritório do Congresso Nacional Africano exilado na Índia. Mais 100
desses cartazes foram feitos por serigrafia.Vinte e três anos mais tarde, os
cartazes foram para o Centro de Memória Nelson Mandela. Eles foram doados por
um ativista anti-apartheid, Mosie Moolla, que escapou da custódia da polícia,
em 1963, e fugiu para a Índia, onde se tornou representante-chefe do CNA no
país. Muitas pessoas não sabem que Nelson Mandela foi condenado à prisão na
Ilha Robben duas vezes. A primeira vez foi por um breve período, em 1963, cerca
de seis meses depois de ter sido condenado a cinco anos de prisão por deixar o
país ilegalmente e incitar uma greve. Inicialmente detido na prisão local de
Pretória, Mandela foi enviado à Ilha Robben em maio 1963 e, depois, em 13 de
junho de 1963, foi inexplicavelmente devolvido a Pretória. Depois de estar lá
há cerca de um mês, seus colegas foram presos e julgados em conjunto por
sabotagem no Julgamento de Rivonia. Mandela e outros sete foram condenados à
prisão perpétua em 12 de junho de 1964. Ele permaneceu na Ilha Robben até o
final de março de 1982, sendo depois transferido para a prisão de Pollsmoor, no
continente. Então, depois de alguns meses em hospitais, Mandela foi enviado
para a prisão Victor Verster em dezembro de 1988, de onde foi libertado em 11
de fevereiro de 1990.Essa história sobre a primeira prisão de Nelson Mandela em
Robben Island demonstra fortemente sua determinação de ferro e seu inegável
senso de dignidade que o ajudaram a sobreviver a 27 anos na prisão. Ele mostra,
por um lado, que, desde o primeiro dia, os carcereiros estavam determinados a
tratar os prisioneiros como gado, enquanto tentavam agressivamente
controlá-los. Não deveria ser assim. Mandela imediatamente se encarregou de
mostrar como é possível mudar a situação até mesmo nas piores circunstâncias.
Foi essa dignidade e força demonstradas por Mandela, e depois seus colegas, que
marcou sua prisão e atitudes subsequentes. Uma das maiores conquistas de Nelson
Mandela foi o fato de ser um advogado qualificado. Em 1953, ele estabeleceu a
primeira parceria jurídica negra da África do Sul, em Johannesburgo, com seu
amigo e companheiro Oliver Tambo. Durante seu longo encarceramento, Mandela
usou seu conhecimento jurídico para fazer justiça, colocando a lei em prática.
Sua resposta à brutalidade e à intimidação, bem como ao assédio e aos abusos
foi recorrer à lei, seja em seu nome ou para ajudar outros presos: Mandela
ameaçava tomar medidas legais ou instaurar uma ação judicial. Como a história
mostra, isso se tornou uma proteção essencial. Teria sido fácil para Nelson
Mandela permitir que o mundo acreditasse que ele foi agredido fisicamente na
prisão. Pelo contrário, Mandela afirmou publicamente que nada aconteceu a ele.
Teria acontecido a outros, mas não a ele. Também teria sido fácil colocar todos
os guardas prisionais no mesmo saco, dizer que eram totalmente brutais. Aqui,
ele pinta um quadro diferente, conta que nem todos eram “malandros” e faz
questão de mostrar os seres humanos e o lado mais humano de alguns de seus
carcereiros.
BY NELSON
MANDELA CENTRE OF MEMORY.
NELSON MANDELA
POSTADO POR MESTRE BICHEIRO
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